Coisas de Mineira 14/06/2023
SKYHUNTER: A FOICE DE FERRO TRAZ UM MUNDO EM GUERRA SOBRE OS RESTOS DE UMA CIVILIZAÇÃO
Em Skyhunter: A Foice de Ferro, há um mundo destruído e sob uma ditadura cruel, Talin, Red e os rebeldes precisam se unir para reconquistar sua liberdade.
Skyhunter: A Foice de Ferro, da autora Marie Lu, é o segundo volume da duologia Skyhunter, que teve o primeiro livro – A Arma Secreta, lançado em 2021 pela Editora Rocco. É uma ficção científica jovem que se passa no futuro, e trata da expansão de um império sobre um continente. Lembrado que se trata de um segundo livro e, portanto, pode ter spoiler do primeiro livro!
No primeiro volume da duologia, conhecemos Mara, a última nação independente, que segue resistindo à Federação de Karensa. Mara tem guerreiros de elite, os Foices, responsáveis por acabar com os monstros conhecidos como fantasmas, seres brutais criados em laboratório. Talin, uma Foice, conhece Red, um fugitivo do exército Karensano, e impede sua morte. Entretanto, Mara caiu.
A Foice de Ferro vai encontrar os amigos de Talin espalhados depois do último confronto, que resultou no domínio absoluto de Karensa. Com a mãe mantida em cativeiro pelo Premier Constantine, Talin, que usa linguagem de sinais para se comunicar, foi transformada na arma mais mortal da Federação: uma Skyhunter. Com enormes asas de metal enxertadas em seu corpo num processo lento e doloroso, armadura de aço implantada sob sua pele, ainda tem um canal psíquico com o Premier, compartilhando emoções e possibilitando conversas telepáticas – que consistem em ordens e chantagem por parte do Premier.
Talin também tinha uma conexão com Red, que enfraqueceu muito. Ele está com os Foices que sobreviveram e, apesar de ferido, é quem mantem a moral do grupo. Percebe que o elo está enfraquecido, mas sente esperança de reencontrar Talin. Resta saber de qual lado ela estará!
"Ela é como tudo que sumiu da minha vida, alegria, amor, gargalhada e companheirismo, tudo me inundando de uma vez."
RESENHA DO LIVRO SKYHUNTER A FOICE DE FERRO DE MARIE LU
A Arma Secreta termina com uma grande reviravolta, por isso estava bem ansiosa para ler a sequência. E, ainda que seja uma história de guerras e batalhas, no primeiro livro tivemos muitos momentos de camaradagem e até mesmo, de romance. Funcionou como uma base para a construção do mundo e para nos preparar para o que estava por vir. Skyhunter: A Foice de Ferro, é mais sombrio. Foi uma sequência forte, cheia de ação, e com uma ótima conclusão.
A autora mudou a forma como essa história é contada, ao acrescentar o ponto de vista de Red, já que no primeiro livro só tínhamos o ponto de vista de Talin. Sendo assim, temos um aprofundamento na história do primeiro Skyhunter – conhecemos um pouco mais de sua família, a forma como foi recrutado, e como teve um revés ao não conseguir matar uma garotinha. Acho um ótimo acréscimo, dando mais complexidade ao personagem.
O romance veio em migalhas. Talin e Red ficam boa parte do livro distantes, e ela ainda evita a conexão, para que Constantine não a use como uma ponte. Ainda assim, e talvez por ter tanto do ponto de vista dele, acho que é um casal que funciona. Se conheceram e vivenciaram muito da guerra, e isso forja uma proximidade, não tem jeito. Mas, quero ter a sensação de que eles se encontrariam em uma situação de paz.
"Sinto a antiga Talin de volta, a Foice, a baseana, a sobrevivente, a luz feroz irrompe pelas rachaduras nos muros. A força dela permeia o elo, e tudo que vejo neste momento é a garota que, um dia, se ergueu à minha frente e me defendeu, com os olhos brilhando."
UMA ESCRITA GRÁFICA COM COADJUVANTES RELEVANTES PARA A TRAMA
Marie Lu tem uma competência enorme na construção e descrição de seus mundos, e aqui não foi diferente. É uma experiência visual, desolado e deprimente – afinal, sabemos que alguma coisa deu muito errado no passado, e só temos restos, mas ao mesmo tempo é tecnologicamente inovador. A começar pelos fantasmas, criados em laboratório como uma das melhores armas de guerra, e que são absolutamente apavorantes. Ela também torna vem visual tanto a capital de Mara e sua periferia, quanto Cardinia – e tem um mapa muito bom.
Os personagens coadjuvantes são bem construídos, e desempenham papéis importantes para a trama, e os amigos Foice são especiais. Adena Jeran e Aramim – que apareceu menos do que eu gostaria nesse livro – mantém a lealdade até o último fio de cabelo. Formam uma verdadeira família!
A mãe de Talin foi essencial para a formação dela, e, apesar de ser prisioneira, se mantem forte e atenta ao que acontece ao redor da filha. É uma verdadeira leoa… A relação dela com a mãe foi uma das coisas mais lindas dessa história. A dinâmica entre as duas era muito palpável, e ver a confiança e o amor que elas compartilhavam foi emocionante. Acho que deu até mais humanidade para Talin.
"Se Karensa descobrir como transformar o que encontraram em Mara em arma, o que quer que tenha ferido aqueles homens, logo não precisaremos deter apenas a Federação. Em breve, todos seremos como os Precursores: aniquilados por algo além de nosso controle."
MARIE LU CONTINUA COMO UMA ÓTIMA CONTADORA DE HISTÓRIAS JOVENS
Ainda assim, teve um ponto que me incomodou. Há uma arma – provavelmente nuclear, que é encontrado entre os restos de uma civilização anterior. Essa arma é detonada, e há uma grande perda de soldados, mas depois não se fala mais nas consequências dessa detonação. Mesmo alguns personagens que estiveram próximos da explosão parecem sobreviver sem maiores problemas. Sei que a intenção da autora não era explicar o que era aquela arma, e, provavelmente, trazer um alerta sobre nosso descarte de resíduos nucleares, mas achei que esse momento carecia de mais discussão. De qualquer forma, desde o primeiro livro esse caminho parecia desenhado, e me fez supor tratar-se de um futuro da Terra após alguma grande guerra e destruição. Quem sobreviveu, acabou perdendo todo o conhecimento e precisando reconstruir uma nova civilização em cima dos restos da anterior…
Finalmente, vale ressaltar a construção do sistema político e dos aspectos ditatoriais, uma ameaça silenciosa que ronda toda a trama. Mesmo aquelas pessoas que se beneficiaram desse sistema refletem o medo de desagradar o Premier. Sua necessidade de controle absoluto, a necessidade de mais poder, são reflexo dos desejos do pai, um homem cruel e desumano. Fica fácil entender como Constantine se tornou um homem tão inflexível.
De um modo geral, Skyhunter: A Foice de Ferro foi uma ótima conclusão da duologia, com um ar de suspense e muita ação da metade em diante, te deixando imerso e curioso pela finalização. Os personagens conseguem apresentar camadas e certa complexidade, com uma beleza bem sinistra num mundo meio pós apocalíptico. Há ação, amizade, amor, uma aventura que vai explorar as consequências das nossas escolhas, e do que nos torna humanos.
"Levanto os olhos, vendo a luz tomar o céu.
Que possa sempre haver alvoreceres futuros."
Por: Maisa Carvalho
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