Leonardo1245 16/04/2024
Meu primeiro livro tête-bêche.
Mistério. Investigação. Drama familiar. Escândalos públicos. História. Essas foram algumas das coisas que eu encontrei no "A ampulheta", o primeiro livro tête-bêche que eu li na vida. Mas o que é isso?
Um livro tête-bêche é um romance com duas histórias, cada uma começando numa ponta diferente do livro. Ou seja, quando concluímos a primeira narrativa, devemos virar o livro de ponta cabeça, tal qual fazemos com uma ampulheta, pra começar a ler a segunda. Até ler esse livro, eu sequer sabia que esse tipo de livro existia, e fiquei interessado em conhecer outros nesse mesmo formato (inclusive, aceito recomendações).
A primeira história se passa em 1881. Estreada por Simeon Lee, um médico inglês que busca recursos financeiros pra dar continuidade às suas pesquisas pra encontrar a cura da cólera, que vinha assolando o país no fim do século XIX. Uma oportunidade de ganhar mais dinheiro surge quando Simeon recebe uma proposta de emprego em Essex: cuidar do pároco Oliver Hawes, parente distante de Simeon, e que já se encontra no fim da vida. Chegando lá, Simeon começa a investigar as alegações de Hawes, que afirma categoricamente que está sendo envenenado. A trama se complica quando Simeon descobre que Hawes mantém aprisionada na sua casa (a Casa da Ampulheta) a sua ex-cunhada, Florence, julgada culpada de assassinato.
A segunda história se passa na Califórnia, em 1939, enquanto os EUA se preparavam pra embarcar na Segunda Guerra Mundial. Nela, conhecemos Ken Kouriat, um jovem que se mudou pra Los Angeles atrás de uma carreira no cinema. Lá, ele conhece os irmãos Coraline e Oliver, filhos do governador da Califórnia, se tornando amigo dos dois. O mistério aqui começa quando Ken encontra Oliver morto, assassinado logo após fazer uma descoberta que não teve tempo de revelar. As duas histórias começam a se encaixar quando descobrimos que a narrativa de 1881 é, na verdade, um livro escrito por Oliver, e que foi baseado na história real do seu avô, Simeon Tooke.
Esse livro me fez questionar a minha inteligência muitas vezes. O tempo todo, senti que não tava entendendo o que tava acontecendo. Quando acabei a primeira história, fiquei com a impressão de que aquilo não podia ser tudo. A história realmente acaba dum jeito muito aberto. Só me tranquilizei conforme fui avançando na segunda história e fui notando os detalhes se encontrando e se encaixando.
Dou apenas quatro estrelas porque gostaria que o livro tivesse aprofundado mais o contexto histórico e, sobretudo, a questão da eugenia. Senti que havia ali um grande potencial que foi desperdiçado pelo autor, que só pincelou essa parte da própria história.
Vale a pena? Muito! Ainda quero voltar às histórias da Casa da Ampulheta novamente, dessa vez conhecendo ambas, pra olhar melhor pra todas as pistas que estavam escondidas na história de 1881. É um livro envolvente, que desafia o leitor ao mesmo tempo que faz com que ele interaja com as histórias, indo e voltando o tempo todo pra apreender o quadro todo! Foi meu primeiro livro tête-bêche, mas certamente não vai ser o último!