Sté 15/05/2022
Não é a estória que nos fascina, mas a alma que está nela
"Talvez, quem sabe, cumprisse o que sempre fora: sonhador de lembranças, inventor de verdades. Um sonâmbulo passeando entre o fogo. sonâmbulo como a terra em que nascera", p. 88
Conheci Mia Couto no ensino médio, fizemos a leitura de "O fio das missangas" um dos contos do livro de mesmo nome. Não me recordo muita coisa, quero ler o livro todo algum dia...
Esse livro é muito bom, o fato de partes da narrativa ser em primeira pessoa não me agrada, coisa minha, nunca curti muito esse tipo de narrativa. Mas grande parte do livro não é em primeira pessoa. A história é intercalada entre o passado e o presente, o que faz tudo ficar bem interessante, pois você acompanha duas histórias em momentos distintos das guerras que aconteceram em Moçambique. Tem a mistura do imaginário popular e momentos extremamente sensíveis. No final tem um glossário que ajuda muito pois a maioria das palavras diferentes não tem no dicionário, então há esse jogo na escrita que traz a língua portuguesa moçambicana misturada com outras línguas nativas do país.
Queria por inúmeros trechos muito fortes aqui, sobre a guerra, a miséria, as perdas, o amor... a vida, mas acabaria pondo o livro quase todo:
"O amor que trocaram é assunto para duas vidas inteiras", p. 71
"Eu temia sua inocência: ela não sabia viver. Tinha sido preparada para um outro mundo, um mundo com ordem e medida", p. 85
"? Tio, eu me sinto tão pequeno...
? É que você está só. Foi o que fez essa guerra: agora todos estamos sozinhos, mortos e vivos. Agora já não há país", p. 125