spoiler visualizarBrendaDominguez 06/02/2024
Uma estória que não sabe o que é ou a que veio
É até difícil começar uma resenha sobre esse livro porque não há nada dele que seja profundo ou bem desenvolvido o suficiente para ser o ponto de partido.
A autora escreve bem, é uma leitura fluída e fácil, e talvez nesse caso em específico esse seja o problema.
Tudo é muito raso, os personagens são unidimensionais, não tem desenvolvimento nenhum, tampouco um arco de início e conclusão e o relacionamento dos protagonistas é... automático. Eles são o que são e a história é o que é. E esse é outro problema, o livro não sabe o que é nem a que veio.
Ele não sabe se quer ser comédia romântica ou um thriller, que na minha opinião, é tão mal construído que eu descobri quem era o "Oculto" no primeiro parágrafo do capítulo narrado por ele, e descobri quem era a mãe da Valentina assim que Renata foi mencionada. Quanto às motivações, essa para mim é a pior parte do livro. Me deixou tão estarrecida e indignada que me fez sentar e escrever essa resenha assim que terminei o livro. Abordar um assunto tão sério quanto tráfico de pessoas, no caso, de crianças, prostituição e exploração sexual mereciam uma leitura sensível e no mínimo pesquisa sobre o assunto. Toda vez que o Oculto aparecia e "contava sem contar" suas peripécias eu tinha a impressão que estava sentada em um fórum de teorias da conspiração que misturaram tudo que geraria indignação pública e polêmica e colocaram no meio da história a troco de absolutamente nada. O livro quer sinalizar a existência de um problema social e não faz o mínimo para conseguir a empatia do leitor, na verdade, ele se aproveita de um possível prévio conhecimento sobre esses temas, por parte do leitor, para não ter que explicar ou dar atenção o suficiente para nenhum desses temas, porque ele já conta com a existência desse sentimento que qualquer pessoa decente teria. Essa linha paralela ao decorrer (vou chamar de decorrer, porque nesse caso, não é desenvolver, tampouco desenrolar, o romance só acontece) do envolvimento dos dois protagonistas é totalmente desnecessária e só comprova que a história não sabe a que veio.
Outro ponto nesse tópico dos assuntos pesados, é que tive a nítida impressão de que o Raul precisava ser caracterizado como aquele típico vilão que se faz de bonzinho mas é inteiramente mal, só para que a protagonista justificasse para o leitor seu súbito interesse pelo Renzo e não fosse crucificada por sair com ele, conhecer sua família e posteriormente convidá-lo para seu apartamento. Porque se ele é um ser
humano horrível, essas pequenas traições dela são perdoáveis. Porque no fim, é isso que ela fez. Ela traiu o Raul, ainda que não fisicamente. E isso para a construção de um enredo é de uma pobreza ímpar.
Não há nenhum problema em ser só uma comédia romântica, elas não precisam de super vilões ou de enredos sensacionalistas para funcionar, a função delas é aquecer o coração e divertir. E está tudo bem. Por isso repito, a autora não sabia o que queria fazer com essa estória, porque ela não sabe o que é, ou a que gênero literário tenta pertencer, o que é uma pena, porque já vi essa mesma autora escrevendo ótimas comédias românticas que eram só isso, comédias românticas.
Outra coisa que precisa ser ressaltada também e de forma negativa é a falta de um aviso sobre gatilhos. O livro fala (ainda que de forma genérica, superficial e principalmente, de forma machista) sobre tráfico de pessoas, tráfico de crianças, prostituição, corrupção, exploração sexual, violência de gênero, violência doméstica, temas médicos sensíveis e não há um aviso sobre esses possíveis gatilhos. O que só reforça a falta de responsabilidade e/ou conhecimento mencionada anteriormente.
Enfim, fiquei bastante decepcionada e espero que o livro seja revisado futuramente para incluir os avisos sobre os gatilhos para não pegar leitores sensíveis desprevenidos, porque para melhorar todos os aspectos apontados, ele precisaria ser refeito do zero.