Thiago275 19/03/2024
Não muito agradável
Publicado pela primeira vez em 1901, O Urso conta a história de Fidêncio, um jovem republicano idealista que, acompanhado da mãe carola, deixa o interior e se muda para São Paulo, para morar na casa de uma prima rica e viúva. Aos poucos, o antes tímido jovem vai tendo contato com figurões da sociedade paulistana e vai abandonando tanto os valores religiosos quanto os ideais políticos que antes norteavam sua vida.
O romance é um verdadeiro exemplar do naturalismo na literatura brasileira. Essa escola literária tem como características, entre outras, a animalização dos personagens, que são dominados pelos instintos mais primitivos – principalmente o sexual – e o determinismo, ou seja, a ideia de que as pessoas são produto do meio em que vivem, não conseguindo escapar da sua influência.
Todos esses aspectos estão presentes em O Urso. A começar pelo título. Ao longo da história, por diversas vezes Fidêncio é chamado de Urso, no sentido de uma pessoa caipira, sem modos, rústica. Do mesmo modo, tanto o protagonista como os demais personagens são levados a satisfazer a sua busca pelo prazer carnal, em relações promíscuas, desde a cena inicial do romance como em seu clímax, que levará a consequências como remorso e culpa.
Por fim, é importante ressaltar que O Urso não é uma leitura agradável. Não só pelo estilo do autor – preciosista – mas principalmente pelos personagens. Não é possível se identificar com qualquer um deles, seja o protagonista taciturno, sua mãe extremamente religiosa, sua prima rancorosa, ou qualquer membro da gama de personagens secundários, que reúnem interesseiros, promíscuos, adúlteros e invejosos.
No entanto, como registro de sua época, o romance é valioso. Ele retrata uma São Paulo que não existe mais: uma cidade provinciana, em que todos se conhecem, ainda longe de se tornar a megalópole atual. Logo, a Editora Unesp merece aplausos por resgatar essa obra de Antônio de Oliveira, mais um dos inúmeros autores esquecidos da nossa literatura.