Mihail

Mihail Eduardo Baka




Resenhas - Mihail


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Danilo Andrade 25/03/2024

Entrelaçamento quântico
Imagine um futuro onde mega corporações infundiram sua tecnologia e poderio publicitário em todos os aspectos da vida humana. Fertilizações in vitro customizáveis por meio de engenharia genética, implantes neurais tornam-se as novas vitrines com uma miríade de estímulos sensoriais na busca de potenciais consumidores. As desigualdades sociais são tão alarmantes que dutos espaciais são erigidos rumo às cúpulas que sustentam atmosferas artificiais, com seus próprios sóis e satélites. Os embaixadores desses impérios artificiais não se limitam aos seus atributos fenotípicos, pois podem descartar seus corpos a qualquer momento, transferindo sua consciência para outra pele qualquer, enquanto o gado humano reside em um fosso profundo de trevas, superaquecimento, doenças e desalento, entre as ruínas deixadas pelos próprios detentores do tal "progresso".

Além disso, com o degelo das calotas polares, um vírus neurotrópico acomete grande parte da população mundial, causando a chamada doença da estafa. Assim, começamos a acompanhar a história de um jornalista independente chamado Vincent, que não mede esforços para conseguir engajamento nas mídias globais, reportando os acontecimentos de uma guerra que se arrasta por vários anos entre duas corporações que desenvolvem IA's com fins bélicos. Até que, em uma de suas incursões, Vincent sobrevive ao chamado "Incidente de Taipei", evento que pôs fim ao conflito, por meio de uma inteligência artificial assassina capaz de invadir não somente redes computacionais, mas também alvos orgânicos desconectados, aniquilando as funções neurais de qualquer ente orgânico que esteja pela frente. Na busca de respostas de como se desenrolou tal fato, Vincent, como único sobrevivente, é objeto de estudos para diagnóstico de sua condição, e no desenrolar, Vincent é confrontado com seu passado, presente e futuro, não importando a distância entre eles, tal como o fenômeno de entrelaçamento quântico.

Esses elementos estão tão presentes em obras de ficção científica canonizadas, como a trilogia Sprawl de Gibson, os livros de Philip K. Dick, "Matrix", "Ghost in the Shell", "Gattaca", Isaac Asimov e tantos outros que metaforizam o presente com vernizes de um futuro tecnologicamente fantástico, mas demasiado humano.

Este livro me fascinou do início ao fim, não somente por reunir as referências supracitadas, mas também pelas reflexões que o autor nos traz sobre vida, morte, ego, sociedade, amor, ressentimento, perspectiva, incoerência e o vazio diante da completa dissolução desse monólogo que construímos em nossas cabeças.
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Carla.Floores 17/03/2024

Q
ESTE LIVRO CONTEM GATILHOS DE SU1C1D10 e VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
Se me pedissem pra resumir este livro em uma palavra eu seria ainda mais sucinta, ‘Q’ seria minha resposta. Quem conhece o personagem de Star Trek chamado Q vai entender.
Vicent é um repórter que luta pra conquistar sua melhor matéria e como um bom jornalista não mede esforços para tal.
Diante de um cenário em que grandes potências dominam os países e estão em constante guerra para conquistar o maior território, leia-se pessoas, Vicent inusitadamente sobrevive a um grande ataque. Por causa disso se torna alvo de estudos e refém da Reatech, ou será da Gexin? Não sei.
É meio difícil falar do enredo sem dar spoilers, mas o fato é que a leitura é fluida e instigante; salvo algumas descrições que arrastam (quem não curte Senhor dos Anéis e afins pode penar aqui) e também contextualizações do diálogo; por exemplo, — fulano disse esticando o braço e apoiando-o na mesa, fitando o chão e pensando na fulana. Sinceramente eu prefiro diálogos mais dinâmicos, em que a conversa flui e o que tiver que ser entendido daquilo tem que estar embutido no trejeito de falar e nas palavras usadas. Quero deixar claro que isso é só uma preferência pessoal, não diminui em nada a qualidade da obra.
Justamente por ser uma obra, é o que é. Não existe pra agradar ninguém.
“A verdade é só um ponto de vista.”
Ghost in the Shell – uma rede de dados que pode ser acessada pelos cyber-cérebros dos soldados.
Foster, você já morreu (PKD) – venda de robôs, bunkers, vacinas, cursos
Blade Runner/Vanilla Sky – manipulação de lembranças
Star trek (Sem Fronteiras) – a forma como ele descreve Os Dutos Espaciais me lembrou Yorktown
Star trek (Além da Escuridão) – no início uma civilização tecnologicamente atrasada vê a nave indo contra as diretrizes da federação, esse povo passa a vê-la como uma divindade.
Star trek (Voyager T07 E19) – a humanização/individuação de robôs
Lucy – absorver uma quantidade ilimitada de informação levando à outra dimensão, noção de tempo e realidade (flip book)
Gattaca – manipulação genética e fertilização in vitro
The Last Question (Isaac Asimov)/2001: Uma Odisséia no Espaço(Arthur C. Clarke) – a evolução da inteligência artificial a ponto da divindade
Escolha a Catástrofe (Isaac Asimov): sobre a entropia chegar ao colapso e o universo se tornar um ovo cósmico.
Por que eu citei essas referências? Porque acredito que se não é coincidência o Eduardo ter escrito coisa tão parecida então ele bebeu dessas ou talvez de outras fontes.
Adorei a forma como a história foi de desenrolando como uma dança, no tempo certo. Na forma como Eduardo usou os tempos narrativos e tempos verbais. Indo e voltando no tempo.
Muito material para reflexão como: existencialismo, programação preditiva, consumismo, exploração de mão-de-obra, muito mas muito plástico mesmo, degradação do planeta, extinção de animais, COVID-19 e os antivacina, guerras e superpotências com suas responsabilidades para com o coletivo, inteligência artificial sapiente, religião e belas viagens dignas de LSD ou coisa que o valha (isso já no final).
Tem vários plots e o final é imprevisível.
Tem até romance e inclusive um romance homoafetivo. Bem suave, bem colocado, parabéns!
Infelizmente há a problemática de não avisar sobre o conteúdo sensível, a gente começa a ler pra se divertir e sai com cinco gatilhos pesando a cabeça. Mas no geral valeu a pena.
Encontrei alguns errinhos bobos de ortografia como, por exemplo, ‘ao Leste’ e ‘malsucedido’.
Fiquei sabendo do livro através canal do Eduardo no Youtube (Baka Gaijin), em que ele anda pelas ruas e becos de Tóquio filosofando e falando outras bobagens legais de ouvir e como o vídeo é dele andando parece que sou eu andando, acho bem relaxante.

ALERTA DE SPOILER DAQUI EM DIANTE:
Uma coisa que caracterizou Vicent em Q, foi que ele tinha dentro dele a IA, poderia usá-la como bem quisesse, mas isso não foi explorado, como se ele fosse mesmo um Jesus, que tem o poder mas não o usa.
Outra coisa foi quando ele enfiou na frente da bala pra salvar o Lucas e nada aconteceu. Como assim?
Uma coisa que não entendi foi Vicent falar que os pais morreram pelo vírus pré-histórico mas no final eles pularam de um prédio.
A entrega de Vicent a Reatech por Lucas só podia dar errado né, o cara com uma pistolinha de nada enfrentar os caras de hovercar, rifle e armadura biônica. Nada garantiria que ele entregando Vicent não o matariam em seguida. Achei ingênuo da parte dele.
E do nada o medinho que Vicent ficou de morrer, afinal ele já havia tentado antes e ficou naquela chorumela de que não tinha sentido pra viver. Acho que isso é bom numa narrativa pra gerar conflito ou dissociação no leitor, como surgiu em mim, coisa que marca.
Em algum momento senti como se os Dutos espaciais fossem o céu e os bunkers/Terra o inferno.
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