Marcos Nandi 22/05/2024
Contos cósmicos que não são cósmicos.
Na introdução desta coletânea, o autor diz não pretender sair do óbvio. Pretende ser mais conservador em suas histórias ou seja, ser menos esquisito.
Meio que uma forma de canalizar suas inquietações.
Mas acho que o tiro saiu pela culatra hahaha nenhum conto deste livro é normal. São todos esquisitos, saídos de uma máquina esquizofrênica de contar histórias (isso é um elogio). Gosto deste tipo de conto, gosto de coisas esquisitas, bizarras. Gostei imensamente do livro.
O autor sabe perfeitamente ir de um conto hilário para um reflexivo em questão de parágrafos, sabe escrever uma coisa esquisita e ao mesmo tempo, algo real ao ponto de ser palpável.
A cada projeto que leio do autor percebo sua maturidade e como ele vai criando uma identidade nova. Cada vez mais vejo menos Gabo e Murakami e mais do Will e isso é incrível. Um grande autor, um grande contador de histórias.
1. A garota da cafeteira: Um conto característico do Will: história simples, engraçada e obviamente, maluca. O protagonista estava em uma cafeteria bebendo seu café em paz, até que surge, uma mulher desconhecida (ou não), para puxar assunto.O papo dela é estranho, mas não duvido que aconteça. Nota 3/5
2. A procura da pomba: Esse é um conto fofo. Maria Emília, uma criança, ganha uma polaroide e resolve bater fotos de pombos. Tudo em cima de uma expectativa de agradar a mãe. Muito fofo. Nota 4/5
3. Cem lhamas de solidão: O protagonista está num chalé refletindo sobre sua vida, sobre seu desemprego, sobre cem anos de solidão (meu livro favorito). Até que ele encontra uma lhama. Inusitado e divertido. Nota 5/5.
4. Driving my cat: Esse conto é um misto de sensação. Quando pensei que algo triste iria acontecer, o autor me surpreendeu. Até agora é meu favorito. É a história de uma road trip de um homem e seu gato sem nome. A viagem seria de Floripa e Porto Alegre, onde resultará numa tragédia. Nota 5/5
5. Gratidão: Gratidão é um vírus? Talvez seja. Will eu te entendo, para mim quem diz "gratidão"também é um monstro, com penas, tal qual um papagaio gigante. Me diverti lendo este desabafo. Nota 5/5.
6. In love no Uber: Eu criei uma expectativa neste conto que não superou. Óbvio que a culpa não é do autor que desde o início falou que são contos dentro da caixinha. Mas é bom. O narrador encontra um Uber com a mesma placa de seu veículo. Pensei que seria uma história de doppelgänger (que amo), mas é algo mais lógica KK Nota 3/5
7. Petit Gateau e soldadinho de chumbo: Esse conto começa bem, mas acho que se perde. O que eu achava ser mais um conto com encontro estranho num avião, acaba num encontro com o passado e algumas memórias (é uma revelação). Não gostei tanto. Nota 2/5
8. Reflexões gasosas: Este conto achei genial. Queria um romance com o Jaime como protagonista. O plot da história é algo muito simples: será que esqueci o gás ligado? Como eu me identifiquei...Deus do céu. Eu tenho TOC e me percebi em cada detalhe. Como o TOC pode atrapalhar a vida da pessoa. Sensacional. Nota 5/5
9. Romance entre morcegos: Achei Sarah uma pessoa bem chata KKKK recém formada em medicina e recém solteira. Pronta para um novo relacionamento, resolve baixar um aplicativo de relacionamentos, mas ela tem uma exigência que torna impossível qualquer tipo de relacionamento. Não é nada flexível. Mas o conto é muito bom e divertido. Nota 5/5
10. Siris de sobremesa: É muito bom ler um conto próximo da minha realidade. A história se passa em Florianópolis e num dia de chuva, o protagonista encontra um pescador bem manezinho da ilha. O conto é meio frugal. Um almoço. Comendo siris e tomando caipirinha. Um texto simples e com sotaque. Eu li com sotaque. Nota 3/5.
11. Um homem sentado no meu sofá: O último conto (e meu favorito) é a história de um intruso que aparece DO NADA na casa do protagonista. Um senhor de 80 anos, que se considera um eremita de consciência. Muito bom. Nota 5/5.