Radioativas: As Mulheres que Lutaram contra o Tempo

Radioativas: As Mulheres que Lutaram contra o Tempo Kate Moore




Resenhas - Radioativas


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Juju 08/05/2024

A saga das garotas pintoras
No início do século XX, em meados dos anos 1920, o rádio era um elemento recém descoberto pelos Curie, porém extremamente popular. Seus supostos benefícios eram alardeados com grande pompa e prometiam melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas, quiçá até prolongá-la. Desse modo, o rádio era utilizado na fabricação de inúmeros produtos, desde relógios com seus mostradores luminosos a tônicos capilares e, portanto, o elemento parecia estar em todos os lugares. Não ironicamente, as indústrias de rádio forneciam empregos sólidos e um salário vantajoso à jovens garotas que estivessem dispostas a trabalhar em seus ateliês, dedicando-se com afinco e minuciosidade ao serviço de pintar os intricados detalhes luminosos em relógios e artefatos militares muito requisitados principalmente em tempos de guerra. Obviamente a demanda era grande e para elas, não se tratava somente de uma oportunidade, mas também de uma forma de servir ao seu país como verdadeiras heroínas munidas de seus pincéis. No entanto, elas certamente não sabiam - e as empresas não faziam questão de investigar mais a fundo ou revelar suas suspeitas - o rádio é um elemento químico extremamente tóxico e nocivo à saúde humana, sendo capaz de literalmente obliterar células, se alojar em ossos e causar inúmeros danos silenciosos como câncer e necrose que eventualmente levam ao óbito. A morte, por sua vez, pode se tornar um processo longo, doloroso e excruciante e quando aquelas garotas começaram a adoecer e morrer aos montes, muitas tentaram reivindicar seus direitos. E foram completamente ignoradas! Ainda pior, elas foram desacreditadas e difamadas, intituladas mentirosas por grandes nomes do campo da ciência. Assim, deu-se início a sua luta por justiça em que unindo esforços e juntando os últimos resquícios de suas forças armazenadas em corpos mutilados e dilacerados, essas mulheres corajosas conseguiram entrar para a história e mudar para sempre os direitos trabalhistas e de segurança no trabalho. As garotas pintoras, como ficaram conhecidas, são verdadeiras heroínas que merecem ser lembradas por sua bravura sem precedentes.

Kate Moore é uma escritora e diretora britânica bem "low profile" (utiliza o termo ghostwriter que basicamente descreve autores que publicam seus textos/obras sem necessariamente revelar a identidade) que acabou se deparando com uma história bastante interessante e deveras peculiar, para não mencionar trágica. Ao dirigir para o teatro a peça "These Shining Lives" (em tradução livre: Essas Vidas Brilhantes) que dramatiza as experiências das jovens pintoras de Ottawa, Kate decidiu que gostaria de dar voz à elas. Mais do que isso, ela desejava conceder-lhes o devido protagonismo que tanto mereciam! E assim, começou a pesquisar e visitar os locais que elas frequentaram, entrevistando familiares e figuras importantes, resgatando cartas e documentos que a auxiliaram a compor um retrato assustador do que realmente acontecia dentro das fábricas de rádio.

Aquelas garotas entravam com sonhos, aspirações e esperanças de um futuro feliz, completamente alheias ao perigo que as cercava. O rádio era a nova moda, o elixir da juventude, a pedra preciosa da ciência! As indústrias rendiam milhões de dólares nos Estados Unidos. Mas a verdade é que muito pouco se conhecia a respeito desse elemento e, portanto, as pessoas apenas acreditavam naquilo que lhes era pregado o tempo todo através de anúncios: o rádio é bom, ele é um aliado. Indivíduos da classe mais abastada literalmente adquiriam jarras de rádio e bebiam o líquido radioativo diariamente sob a justificativa de que era "bom para a saúde". Aquelas garotas pintoras não eram diferentes. A maioria vinha de origem humilde, pobre, então o salário era mais do que bem-vindo e quem não gostaria de trabalhar em um ambiente supostamente limpo e manuseando a novidade benéfica do momento? Mas o sonho rapidamente se converteu em pesadelo e quando as consequências vieram, a desinformação, a ganância e o ego só fizeram aumentar o sofrimento daquelas que tanto clamavam por socorro e tinham suas preces esnobadas propositalmente. Enquanto seus corpos se despedaçavam, seus dentes caíam e tumores cresciam, as empresas de rádio estavam ocupadas demais tentando manter sua reputação imaculada, para não mencionar seus cofres polpudos. Foi uma longa luta e que durou muitos anos. Uma batalha árdua, cansativa e extenuante. Muitas garotas morreram no processo e muitas mais sofreram com as dores de seus corpos deformados. Porém, nada disso foi em vão, e mesmo após obterem a tão esperada vitória nos tribunais, estes mesmos corpos auxiliaram a ciência a salvar a humanidade que enfim passava a ter noção dos perigos da radioatividade.

É um livro incrível, uma experiência de leitura emocionante e muito única. Uma obra extremamente bem escrita, com uma narrativa detalhada e que não se torna cansativa em nenhum momento. Acompanhar a jornada das garotas pintoras, conhecer seus nomes e suas histórias singulares foi um privilégio para mim e como mulher, especialmente, eu sinto muito orgulho e sou extremamente grata à cada uma delas. Pois é por causa dessas jovens corajosas que hoje nós estamos aqui em segurança, foi a partir delas que começamos a tomar conhecimento da dimensão do perigo com que estávamos literalmente brincando e subestimando. Do contrário, muito provavelmente não haveria sobrado ninguém para evitar a catástrofe que se desencadearia. À Kate Moore, obrigada por escrever essa obra de arte atemporal que com a edição lindíssima da Darkside apenas teve sua beleza e relevância realçada. Radioativas é dotado de potência latente e impactante, um livro que merece ser lido por qualquer pessoa e com certeza entrou para a minha lista de favoritos e melhores leituras do ano. Incrível!
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Xandy Xandy 01/05/2024

História realmente impactante!
A autora Kate Moore conseguiu, de maneira brilhante, dar voz às "garotas do rádio": mulheres que trabalharam pintando mostradores de relógios para que eles brilhassem à noite, utilizando tinta à base de rádio - elemento considerado mágico e muito utilizado no início do século XX por todos os ramos de indústria.
Essas mesmas mulheres, eram obrigadas por conta da produtividade, a levarem à boca seus pincéis, pois só assim conseguiam dar retoques mais precisos nas peças pintadas, processo este que levou-as a serem envenenadas gradativamente com rádio.
Seus empregadores, mesmo sabendo dos riscos do manuseio de tal elemento desde a descoberta do casal Currie, esconderam de suas empregadas, negando veemente seus riscos!
Um livro para ser lido e relido inúmeras vezes por todos!!!
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