Tuca 04/08/2023Se você espera algo estilo Jane Austen, vá com calma. Aqui você encontra apenas alguns dos personagens apresentados no que foi escrito em “Os Watsons”, e referências, por meio do enredo, a fórmulas usadas por ela em romances anteriores. De resto, é uma história reinventada e acabada por completo pela sobrinha de Jane, Catherine Hubback. Basicamente, talvez, seria possível dizer que Catherine criou uma fanfic com os personagens escritos pela tia, mas seguiu caminhos e estilos bem diversos do que estamos acostumados a ver com os de sua famosa parenta. Então, para aproveitar o melhor possível desse livro, o ideal é não fazer comparações com o que Jane Austen teria escrito, porque com certeza ela não teria escrito “A irmã mais nova”.
Outra dica de leitura é ler “Os watsons” antes de adentrar em “A irmã mais nova”, porque o início deste é basicamente um resumão daquele, tal qual um compilado do capítulo anterior de novela ou de série de TV. Catherine reescreveu esse início de forma sintética, mas a compreensão fica melhor se você tiver lido o original. Assim, temos Emma Watson, a irmã mais nova dentre seis, que não havia sido criada pelos pais, mas sim por tios ricos. Com a morte do tio, que não deixou nenhuma herança para pobrezinha, acreditando que ao passar todos os seus bens e dinheiro para a esposa, ela cuidaria de Emma e administraria tudo (considerando que a jovem ainda era menor de idade). Emma se vê sozinha e sem dinheiro. A tia com um comportamento egoísta casa-se com um homem mais pobre que ela, e fica completamente deslumbrada, deixando Emma de lado, e fazendo a ter que retornar para os braços de uma família que ela não via desde os oito anos e com o qual seu contato tinha sido mínimo. É nessa nova vivência que Emma, com seu comportamento e educação de uma dama, tem que adentrar um mundo diferente: o de uma família com recursos financeiros escassos e cheia de intrigas. Com irmãos bem opostos, ela vai aprender como se reconhecer dentro desse novo ambiente e acaba por conquistar também amigos e corações.
Pensando primeiro nos pontos negativos do livro, no topo eu colocaria os diálogos dos personagens que em alguns momentos são estereotipados e dramatizados demais, parecendo uma novela mexicana. Nas conversas de nossa leitura coletiva, @efinco mencinou o fato de que Jane era uma autora da era regencial e Catherine, vitoriana. O que fez com que Catherine estivesse escrevendo sobre um período que ela não vivenciara, e por isso, ela tenha tido dificuldade de realmente reproduzir os comportamentos da época, outro ponto que não foi bem trabalhado. Os homens têm ações e falas bem mais vulgares do que estamos acostumadas a ver nos romances de Austen. Parece realmente um livro escrito por alguém que não viveu aqueles costumes.
Superando isso, “A irmã mais nova” também parece uma novela mexicana no seu melhor: as fofocas, intrigas, amores e reviravoltas. Por mais que Catherine tivesse tentado imitar trejeitos da era regencial, ela fez de Emma, uma típica mocinha de romances vitorianos: a jovem boazinha que sofre várias injustiças e precisa achar formas de superar isso dentro da moral cristã, e que obviamente será recompensada por se manter no bom caminho. Quanto ao mocinho, ele não é daqueles de suspirar como um Mr. Darcy, nem dado a grandes gestos românticos. É basicamente um homem médio de bom caráter, mas isso é o que faz dele uma ótima combinação para Emma. É uma história divertida, fácil de ler e que lembra alguns romances de época mais atuais (com ressalvas, claro!).
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