Pandora 15/05/2024Esta novela de Machado de Assis foi publicada em folhetim entre 1885 e 1886; em 1944 foi redescoberta pela pesquisadora Lúcia Miguel Pereira, que reuniu as partes para publicação em livro. Segundo José Almeida Jr., no prefácio desta edição, Lúcia “teve um papel fundamental na construção de Machado de Assis como o maior escritor brasileiro. Em 1936, a pesquisadora publicou “Machado de Assis: estudo crítico e biográfico”, com informações e dados que contribuíram para conhecer melhor a vida e obra do escritor”.
Aqui temos uma história que se passou no Brasil Regência e é contada por um padre que queria escrever um livro sobre o Primeiro Reinado e, para isso, frequentou durante um tempo a Casa Velha, residência de uma abastada viúva. Ele acabou se envolvendo nas questões familiares e no romance entre dois jovens: Félix, o filho da viúva, e Lalau, uma agregada da casa.
Machado não publicou Casa Velha no formato de livro e me pergunto por quê; se ele não gostava da obra tanto assim, se ela lhe trazia lembranças não muito boas ou o quê? Porque assim como a personagem Lalau, a agregada da Casa Velha que era administrada por d. Antônia, viúva de um ministro de D. Pedro I, Machado de Assis viveu como agregado na Chácara do Livramento, cuja proprietária era Maria José Mendonça, viúva de Bento Barroso Pereira, que foi senador e ministro no reinado de Dom Pedro I. Sabe aquela pessoa que é como se fosse da família? Então, mas não é.
No livro Joias de Família, Zulmira Ribeiro Tavares, ao retratar uma relação muito mais atual entre uma mulher rica e outra que trabalhou para ela praticamente a vida toda, escreve: “Em algumas circunstâncias isso quer dizer exatamente o que enuncia: que Maria Preta é como se fosse da família. Em outras, que Maria Preta não é como se fosse da família, uma vez que não é da família, é apenas “como se fosse””.
Eu gosto muito de Machado e considero sua escrita impecável; de uma forma engenhosa ele vai colocando nas falas dos personagens, bem como em algumas atitudes, evidências de um embate político e social; o período é turbulento, mas dentro da Casa Velha a matriarca preza pelo tradicionalismo e luta pela manutenção do poder.
O que não me entusiasmou muito aqui foi o romance entre os jovens; Félix é um frouxo; Lalau muito digna. E o padreco é dúbio, um tanto sem graça, não convence a gente daquele amor inconveniente.
Eu apreciei a leitura, mas não me empolgou.