Resenhas - Viagem à luta armada

Bolena 15/02/2023

Viagem à Luta Armada mostra um pedaço da trajetória de Carlos Eugênio Paz na ALN. Não mostra do início ao fim, são fragmentos de memórias que vem e vão, a história não é contada de forma linear. Por exemplo, no início temos informações que Marcela é namorada do autor e Aureliano está morto. Com o passar das páginas vemos como ele conheceu Marcela e Aureliano é um "personagem" regular na maior parte do livro.

Existe um fio condutor que são as ações armadas, o desejo de implementar uma Frente Ampla de várias organizações armadas e a criação de uma guerrilha rural e a suspeita que um antigo militante está colaborando e prestes a trair um líder.

Nesse vai e vem de memórias vemos como ele conheceu Marcela e seu relacionamento com seus amigos, Aureliano e Poeta. Vemos sua época no colégio quando faziam pichações contra a dituradura e mais tarde ajudaram a fundar a ALN no Rio. O autor conta do seu período no exército e ações armadas que executaram.

Em itálico, Carlos Eugênio fala sobre sua viagem nas drogas e as conversas com sua terapeuta. É impossível mensurar o tamanho da dor que deve ter sido essa sobrevivência. Quando lemos, parece que estamos caminhando por um cemitério. Praticamente todos que aparecem no livro (com exceção da família de Eugenio) foram mortos durante a ditadura. Não consigo imaginar o peso que foi ver todos os seus amigos sendo mortos um a um, alguns em tiroteio, mas a maioria debaixo da tortura. Ele se culpa muito, seja por não ter conseguido salvar alguns companheiros ou erro de julgamento, que foi o justiçamento de Mário.

No início o livro tem um tom de aventura e é uma leitura rápida. Quando passamos da metade e começamos a chegar no final, a trama fica cada vez mais tensa. As quedas, que são as prisões e mortes de companheiros, aumentam, a cada página vemos nomes conhecidos que se foram e
e o grupo de Eugênio fica cada vez mais cercado. Conseguimos sentir isso.

O livro é recomendado para todos que se interessam pelo período da ditadura militar e desejam saber mais como os integrantes da luta armada pensavam e se organizavam, muito além de ver uma lista de nomes e talvez fotos em preto e branco.