Lista de Livros 18/06/2022
Lista de Livros: Aspectos do novo radicalismo de direita, de Theodor W. Adorno
(Introdução de Felipe Catalani)
“A persistência da lógica da acumulação de valor na Alemanha nazista não ocorria sob uma economia estatizada (como na União Soviética), visto que setores significativos dos meios de produção permaneceram sob controle privado. Após a dissolução dos sindicatos, Robert Ley, chefe da Frente Alemã para o Trabalho (Deutsche Arbeitsfront, que havia substituído todos os sindicatos após 1933 e que cimentava a conciliação de classes sob Hitler ao formar o que chamavam de “comunidade do trabalho”, promete conceder “autoridade absoluta ao dirigente natural da fábrica, quer dizer, ao patrão”, e que os patrões vão ser agora de novo o ‘dono da casa’”. Os plenos poderes patronais indicam, portanto, menos um processo de racionalização econômica total e sem frestas do que uma gangsterização da economia, vinculada também ao poder paralelo exercido pelas milícias fascistas — algo observado de forma intensa na Itália, onde o squadrismo foi responsável por aniquilar todo o aparato dos comunistas e do movimento operário, abrindo o caminho para a ascensão de Mussolini. Com o patronato mafializado, garantia-se ao mesmo tempo a disciplina da força de trabalho e combatia-se, com meios extralegais, toda possibilidade de sublevação. Portanto, a ditadura fascista não iria abolir a “anarquia da produção de mercadorias” (Marx), mas garanti-la. Na contramão da interpretação de Pollock, para quem o advento da ideia de “capitalismo de Estado” e do diagnóstico do fim da era liberal do capitalismo representaria a passagem do primado da economia para o primado da política, Neumann analisava que “a competição, e mesmo a competição selvagem, continua funcionando. A iniciativa empresarial não está morta; ela é vital como antes e talvez agora ainda mais. O poder motivante da expansão é o lucro. A estrutura da economia alemã é a de uma economia completamente monopolizada e cartelizada”. Tratava-se então de compreender o fascismo como “a organização terrorista das contradições do capitalismo”, e não a suspensão dessas contradições.”
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(Livro)
“Não se deve subestimar esses movimentos (radicais de direita) devido a seu baixo nível intelectual e devido a sua ausência de teoria. Creio que seria uma falta total de senso político se acreditássemos, por causa disso, que eles são malsucedidos. O que é característico desses movimentos é muito mais uma extraordinária perfeição dos meios, a saber, uma perfeição em primeiro lugar dos meios propagandísticos no sentido mais amplo, combinada com uma cegueira, com uma abstrusidade dos fins que aí são perseguidos. E creio que justamente essa constelação de meios racionais e fins irracionais, se eu puder expressar de forma abreviada, corresponde de certo modo à tendência geral civilizatória que resulta em uma tal perfeição das técnicas e dos meios, enquanto, na verdade, a finalidade geral da sociedade é ignorada. A propaganda é genial, sobretudo pelo fato de que, nesses partidos e movimentos, ela nivela a diferença, a diferença inquestionável entre os interesses reais e os falsos objetivos simulados. Assim como outrora com os nazistas, a propaganda é realmente a substância mesma da coisa. Se os meios são substituídos pelos fins em uma medida crescente, então pode-se quase dizer que, nesses movimentos de direita radical, a propaganda constitui, por sua vez, a substância da política. E não é nenhum acaso que os assim chamados líderes [Führer] do nacional-socialismo alemão, Hitler e Goebbels, eram justamente, em primeiro lugar, propagandistas; e a produtividade e a fantasia deles entrou na propaganda.”
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