spoiler visualizarPhen0 01/02/2024
Um livro um pouco difícil de entender. Já sabia que Franz Kafka gostava de abordar seus livros com metáforas, já que eu já tinha lido A Metamorfose, mas não posso afirmar que tenha entendido esse livro 100%. Minha interpretação é variada, e é difícil organizar o pensamento na hora de escrever.
Pois bem, vamos começar com o fato de que nenhum dos personagens possui nome, muito menos o lugar onde estão, dando a entender que Kafka quer abordar a narrativa como algo que pode acontecer com pessoas variadas, em locais variados.
Em segundo lugar, é importante perceber que as relações de poder são eternamente citadas na obra. Há uma hierarquia explícita e implícita, explícita com o "nome" dos personagens (Ex-comandante, oficial, soldado, viajante, condenado), e implícita com a questão de que, como o viajante foi convidado pelo comandante para a colônia penal, ele é colocado em um certo lugar de poder, e por isso, o oficial se vê na obrigação de se condenar quando o viajante diz que não aprova aquele processo. É como se o oficial entendesse que, por mais que aquela tortura fosse há anos aprovada, ela estava sendo desaprovada por uma pessoa em um poder acima do seu, e independente de suas convicções, ele deveria ser punido pelo aparelho, e o condenado, libertado. Isso demonstra o nível de doutrina o qual o oficial se submete, ao mesmo tempo que mostra mais três coisas: a famosa frase de Paulo freire, a segunda relação de poder implícita e uma alusão à religião. Irei explicar sobre todos com detalhes abaixo:
1. A famosa frase de Paulo Freire, "O sonho do oprimido é se tornar o opressor", quando o condenado começa a se divertir com a tortura realizada no oficial e até participa dela, mesmo que ele saiba a dor do processo. Isso, de certa forma, legitima a tortura e a punição, ou seja, o condenado, por mais perturbado que estivesse com sua própria condenação, estava concordando com ela, tanto porque ele se divertia com a punição feita ao oficial, tanto porque em uma certa parte do livro que ele está no aparelho, ele conversa com o soldado e os dois começam a rir e se divertir, como se fossem dois amigos e aquela situação fosse completamente banal.
2. A segunda relação de poder implícita é quando o viajante não faz nada para ajudar o condenado quando ele estava sendo torturado, mas se propõe a ajudar o oficial quando vê que tem algo de errado com o aparelho. Ou seja, o viajante, apesar de não concordar com a punição, não parece se importar com um mero cidadão, mas se importa demais com alguém em um certo nível de hierarquia.
3. A alusão à religião fica óbvia quando o oficial vai ser enterrado e eles passam pelo túmulo do ex-comandante, que está com uma frase escrita claramente fazendo referência a Deus ou o messias, como no trecho ?Acreditai e aguardai?, ?uma profecia diz que ele ressuscitará??. Isso demonstra como os cidadãos confundem os governantes com deuses, e costumam seguir as torturas como se não fossem nada justamente porque acreditam são ordens divinas. O próprio oficial se confunde com Jesus, quando se coloca no lugar de ser torturado. Talvez isso seja até doideira minha mas? Foi o que pareceu.
Uma coisa a mais que acho importante citar: Como o comandante chamou o viajante para lá, algo me diz que eles estavam tentando convencer o viajante a gostar da ideia da punição e disseminá-la para sua cidade natal, já que essa punição não estava sendo mais efetiva no local onde viviam. Mas como bem sabemos, isso não aconteceu.