Marcella 05/07/2021
David Copperfield é um romance de formação, onde acompanhamos a vida do personagem que dá nome à obra, desde seu nascimento até a velhice.
Alternando entre sofrimento e alegria, drama e humor, sordidez e romance, é impossível não se apegar ao personagem narrador e aos principais personagens secundários à sua volta. David é um menino bom em sua infância, que de repente se vê órfão, nas mãos de uma dupla de vilões que fazem de sua vida um verdadeiro inferno, até ele conseguir fugir e encontrar refúgio com uma parente improvável, que rejeitou sua mãe quando estava grávida. Se os irmãos Murdstone mostravam o caráter mal e mesquinho do ser humano, ficamos ainda mais perplexos quando David conhece o infame Uriah Heep, provavelmente um dos personagens mais detestáveis da literatura.
O ponto alto dessa obra são os personagens em si. Charles Dickens os constrói de maneira única, se não de caráter tão aprofundado, ao menos de uma forma capaz de causar a empatia ou repugnância imediata do leitor, que se vê preso à narrativa, torcendo por cada um e querendo saber o que acontece nos próximos capítulos.
Há alguns momentos de dramalhão, onde parece que acompanhamos uma novela. Há momentos muito cômicos, principalmente os que envolvem o Sr. Micawber e suas transações financeiras atrapalhadas. Mas em todos os casos o autor apresenta nuances de personalidades, que podem ser analisadas em mais de uma camada.
Por descrever toda a sua vida, desde menino até a velhice, a narrativa não é totalmente fluída, comportando momentos mais ágeis e momentos de maior reflexão. De qualquer forma, o leitor chega ao final com um sentimento ambíguo, feliz pelo desenrolar da maioria dos que acompanhou, mas triste por terminar a obra e se despedir dessas personalidades tão interessantes.