Bruna 07/10/2020
"F**eu! Tô aqui de quatro pra você e você nem apareceu."
A frase acima foi tirada do texto de Fisgadas.
Difícil falar sobre esse livro, muito difícil. Porque de um lado temos a grande necessidade de mais narrativas LGBT+ - no geral, não somente lésbicas ou gays, não mesmo - e no outro o livro em si e tudo aquilo que eu senti e percebi lendo. Tudo isso me deixa muito receosa quanto ao que escrever aqui.
O primeiro ponto alto e definitivamente o mais alto de todo o livro, é o desenvolvimento de mundo da autora, assustadoramente real, conforme eu ia lendo livro e era apresentada às problemáticas novas desse Brasil distópico de Fisgadas, sentia um frio na barriga intenso ir se espalhando pelo meu corpo todo. É muito real e pertinente de um jeito tão triste toda a realidade em que o país se encontra nessa ficção, que, nossa batia um desespero. Além disso, na primeira metade do livro, eu simplesmente amei o desenvolvimento da Analiz e da Tarsila, achei que as nuances das personagens foram colocadas muito bem, com todas as suas complexidades e questões.
Foi mesmo na outra metade que começou a complicar. A autora passou realmente muito tempo mais nos explicando como que o mundo funcionava e começou mesmo a narrar a partir daí. O ritmo mudou, a profundidade também, assim como a credibilidade das personagens. Tudo ficou mais rápido, raso e superficial. O romance das protagonistas não foi nem minimamente convincente, eu ficava incomodada de ler. O capítulo em que elas se conhecem é o pior de todos, foi o ponto mais baixo do livro inteiro, e, pra piorar, a partir dali as perspectivas das duas entraram em conflito e os mesmos diálogos e cenas começaram a se repetir, tive que pular muitas páginas por causa disso - porque ninguém merece reler algo que você literalmente acabou de ler. Eu ficava muito brava porque, quando isso começou a acontecer, a profundidade da Tarsila era igual a de uma folha de papel, e o ponto de vista dela sempre vinha primeiro, sendo que o da Analiz era sempre mais interessante, porque ela observava e opinava no mundo.
Enfim, como eu disse, foi só ladeira abaixo a partir dali, muitos furos, muita superficialidade, nem parecia que era a mesma pessoa escrevendo. No fim não sei se eu recomendaria esse livro, por causa daquele conflito que mencionei no começo da narrativa, acho que diria pra quem quer que queira ler que aproveite a primeira metade do livro, que é realmente boa, e tente a sorte no resto. Quem sabe você não goste?