Vinicius 05/02/2021
Resenha: O segredo do meu turbante, de Nadia Ghulam e Agnès Rotger
Olá, Contagiantes, estão animados para o ano literário de 2021? A minha meta é ler 52 obras nesse ano. O que daria cerca de 1 livro por semana. Será se irei conseguir? Comecei com um livro chocante, que inicialmente me deixou muito abalado e quando terminei estava aos prantos de felicidade. Vem conhecer melhor a história da Nadia.
Nadia Ghulam é uma escritora mulher afegã que passou dez anos se passando por seu irmão morto para escapar das restrições do Talibã contra as mulheres. Seu livro sobre suas experiências, escrito com a jornalista catalã Agnès Rotger, foi publicado em 2010 e chegou ao Brasil e às mãos do resenhista que vos escreve pela parceria com a Globo Livros em 2020. O segredo do meu turbante, ganhou o Prêmio Prudenci Bertrana de ficção. A premiação ocorre desde 1968 e o prêmio é considerado um dos prêmios de maior prestígio na literatura catalã.
Na obra conhecemos a história de vida da Nadia, desde a infância até a fase adulta. Acompanhamos os momentos antes de o governo Talibã se instalar, vemos o quanto tudo na cidade era próspero e com fartura alimentícia. Depois que é atingida por uma bomba aos oito anos em Cabul, capital do Afeganistão, fica seis meses em coma, vemos outro cenário da cidade. Nadia encontra-se sem casa e sem identidade ao ver-se com o rosto queimado e deformado devido ao ocorrido. A seguir, com a morte de seu irmão e a imposição da ditadura talibã, as mulheres não poderiam trabalhar, deveriam usar burcas e médicos homens não poderiam nem atender pacientes mulheres.
"Acreditam que, geralmente, no Afeganistão, as mulheres não saem de casa nem sequer para fazer compras, por isso, não precisam ler as placas, nem comparar preços nem, claro, precisam aprender uma profissão, porque nunca trabalharão fora de casa. Para cozinhar, lavar e criar os filhos, os ensinamentos das mães, irmãs e sogras bastavam. E o resto das qualidades de uma mulher – ser submissa e complacente com o marido, eficiente para a família e invisível para o resto do mundo – exigem menos ainda a necessidade de um diploma. Como minha mãe dizia, ‘é preciso aceitar que quando dizem que o leite é preto, é porque ele é preto’ " P. 169-170
Depois disso, decide assumir a identidade do falecido irmão. Assumia empregos perigosos e com muito esforço físico para poder estudar, trabalhar e garantir o alimento na mesa da família em meio ao regime político que a proibia de fazer tudo isso.
Nessa obra vemos perfeitamente as consequências do machismo. Inclusive, lembrei da série The Handmaid’s Tale. Vemos ainda a preocupação da protagonista com o fato de não crescer barba o suficiente e ela só ter que ficar com o buço natural que nasce nas mulheres, pois nos homens é obrigatória a barba e é vedado o uso de cabelos longos. Vemos questões de como a família lida com transtornos psiquiátricos relacionados ao pai.
As autoras juntas se tornam uma voz muito importante para a luta dos direitos humanos e, principalmente, das mulheres nas regiões islâmicas do mundo. A história se passa entre a década de 90 e a primeira década dos anos 2000. A história flui muito rápido, me senti órfão quando acabou e precisei correr para a internet para descobrir mais sobre a Nadia e entender melhor sobre o regime ao qual foi imposta. Até a próxima aventura, galera!
site: https://silenciocontagiante.wordpress.com/2021/02/03/resenha-o-segredo-do-meu-turbante-de-nadia-ghulam-e-agnes-rotger/#comment-4864