Ellen 13/06/2020Diante da primeira leitura, minhas primeiras impressões:
É um livro que merece ser lido e relido, não por ser de difícil entendimento, o N. T. Wright é expert em abordar assuntos complicados de forma didática, essa não é a questão. Entretanto, acontece que o tema abordado é bastante profundo, por isso, demanda uma análise mais demorada.
Impossível não comparar a visão do Wright com a do Harold Kushner, não apenas sobre a pandemia, mas, em relação aos momentos de crise em geral: durante a crise, as perguntas não devem ser do tipo "por quê?", mas, do tipo "o quê?", não "por que isso me aconteceu?", mas, "já que isso me aconteceu, o que posso fazer a respeito?". Wright descarta as respostas simplórias às perguntas sobre "os porquês" e avança para alternativas a respeito de "o quê" a igreja pode fazer durante a pandemia, demonstrando a postura tomada pelos antigos cristãos e convidando os cristãos de hoje a agir de forma semelhante.
Ainda, ao final do livro, N. T. Wright apresenta, brevemente, sua visão de como será o mundo pós pandemia. Diferente de muitos que imaginam um mundo melhor e colorido, o autor tem os pés no chão e revela um ponto de vista que me fez lembrar uma fala do pastor Ed René Kivitz: "o mundo pós-pandemia vai ser um mundo pra gente grande". Concordo. Entretanto, gosto de acreditar que "gente grande" conota, ao menos, duas possibilidades de significado: sim, teremos um mundo com mais pobreza, miséria, grande número de pessoas sofrendo com depressão e outras doenças da alma, "um mundo pra gente grande", gente forte, que "aguenta o tranco". Mas também, um mundo onde essas mesmas pessoas necessitadas, ao decidirem se posicionar no sentido de "já que isso me aconteceu, o que posso fazer a respeito", e, ao perceberem a Presença de um Deus que não é o responsável pelo sofrimento, mas, que sofre juntamente com os seus, começarão a perceber uns aos outros e a prestar ajuda mútua, afinal, não é disso que trata o Evangelho? Se enfrentaremos um mundo ferido, "um mundo para gente grande", sejamos "gente grande" como os primeiros cristãos dos quais o mundo não era digno. Esse tipo de "gente grande" que, cientes de suas próprias necessidades, escolhiam suprir as necessidades dos outros, confiando num Deus que provê e que prometeu estar com eles todos os dias e esteve (e está). Como bem afirma Tomás Halik, "pertence à fé cristã a coragem de perceber as feridas do nosso mundo e de tocá-las com a fé, porque encontramos Deus em todo lugar onde pessoas sofrem."