mxavier 08/01/2022
"Sobreviver não é o suficiente"
Acho que tudo que lemos impacta na nossa vida de alguma forma, as vezes o período pelo qual passamos pode trazer uma percepção diferente sobre a própria leitura, e acho que essa situação se aplica muito bem agora, apesar de que quereria eu ter lido esse livro em meados de 2020. Mas o que quero dizer é que, esse livro se assemelha de várias maneiras - e outras não, graças a Deus - ao período em que vivemos agora com a pandemia do coronavírus.
Se há alguns anos alguém pedisse para imaginar um mundo dominado por um vírus conhecido, que sofreu uma mutação, e foi capaz de dizimar mais de 90% da população mundial, colapsando todo e qualquer sistema criado pelos humanos na Terra, eu não conseguiria formar boas imagens. Hoje imaginamos isso com facilidade.
Então eis que a Gripe Suína, ou Gripe da Geórgia, executa o cenário acima mencionado. Um vírus com período de incubação extremamente curto, ele leva de 24 à 48 horas para levar um ser humano à morte. (Que bom que o coronavírus não é assim). Todo o mundo entra em colapso, o sistema elétrico estanca, o sistema de águas e esgotos também, supermercados não são mais abastecidos, não há mais gasolina e nem circulação de dinheiro. O mundo parou.
Mas há uma "sacada" muito bem feita aqui. A autora nos faz refletir sobre a fragilidade da nossa existência, na velocidade em que as coisas podem mudar, nas relações humanas e como ela nos impacta. Por exemplo, atualmente fala-se que agimos de modo impessoal, pois as tecnologias nos afastaram dos laços diretos. Entretanto, não é bem assim. Bastou uma quarentena para percebermos como o contato e proximidade humana são importantes para o bom funcionamento de nós mesmos. Ao menos para eu perceber.
Então eu acho que esse livro é mais que uma ficção. Ele tem falhas, óbvio, em alguns momentos fica um tanto quanto confuso ou cansativo, mas o conjunto da obra, no geral, é um espetáculo de reflexões. Agora, meu próximo passo, é conferir a adaptação da HBO, espero que faça jus à obra.
Notas:
"O inferno é a ausência das pessoas de quem temos saudades".
"Nós reclamamos de como o mundo moderno é impessoal, mas isso é mentira, era o que lhe parecia; nunca tinha sido impessoal, nem de longe. Sempre houve uma sutil e sólida infraestrutura de gente, todos trabalhando à nossa volta, sem serem notados, e, quando as pessoas param de trabalhar, todo o sistema emperra e para. [...]"