Desmundo

Desmundo Ana Miranda




Resenhas - Desmundo


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Lais.Lagreca 18/04/2021

Um outro olhar sobre a nossa história
Esse livro não é um livro que você senta e começa a ler e quando se dá conta leu 60 páginas... pelo menos não foi para mim, o que, de forma alguma, significa que ele não mereça o nosso tempo.
A escrita cuidadosa de Ana Miranda consegue nos transportar para os anos de 1552 (aproximadamente). A escolha da autora por usar construções que representam o português desse período bem como a narrativa em primeira pessoa feita pela protagonista Oribela nos permitem visualizar e imaginar aquele espaço da narrativa, aquele Brasil.
Ler esse livro é ler um lado da história do Brasil que não é contada em nossos livros de história e não faz parte do nosso imaginário de formação de nação. As mulheres representadas nessa obra demonstram que, por mais que a elas a voz tenha sido negada, sem elas nada teria sido “construído”.
Desse modo, com a política do branqueamento, da não “mistura” de raças, as mulheres que aqui já estavam, além de deixarem de ter qualquer sentido de posse com relação à sua terra também deixaram de serem donas do próprio corpo. Essas mulheres, as mulheres indígenas, passam a ser usadas ao bel prazer dos brancos para serviços de todas as naturezas – braçal e sexual.
Oribela, uma menina órfã, é trazida para o Brasil para se casar, conforme exigia a igreja e a coroa, com um dos portugueses que aqui estava a fim de aumentar a população dessa terra gigantesca.
Essa menina, então, com seu olhar inocente, vai descortinando ao longo da narrativa as muitas violências sofridas pelas mulheres. Pelo seu olhar, conseguimos ver que, embora vivessem as órfãs uma vida de sujeição e de silenciamento perante os homens brancos, as mulheres indígenas viviam uma situação ainda pior, uma vez que se quer “mulheres” eram consideradas: “Eram elas uns animais mansos e de alguma alma humana, nos sentimentos, feito umas gazelas,...” (p. 202)
Assim, essa obra de Ana Miranda mostra-se como uma outra perspectiva sobre a nossa história. Se pararmos para pensar em como a maior parte das narrativas (quase cem por cento) que nos dizem respeito são contadas pelos homens (geralmente brancos e de uma classe privilegiada) quanto não deveria ser revisto, não é mesmo?

Hou ha! Vamos ler “Desmundo”?
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Priscilla Akao 24/11/2014

Aqui não tem ninguém inocente
Primeiro assisti ao filme e fiquei fascinada. A origem do Brasil !...degredados recomeçando a vida num fim de mundo sem lei. " Aqui não tem ninguém inocente" é a frase que me marcou dita a Oribela pela sua sogra quando ela espantada olha a filha-irmã de seu marido.
Gostei ainda mais do livro . Desde a capa, os desenhos, o português arcaico...
Achei fantástico, os desmandos. O desmundo.
Mas não é mesmo uma leitura fácil.
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tayssa :) 30/03/2022

cansativo
a historia em si é muito boa, se passa na época em que o Brasil estava sendo colonizado, mostra o ponto de vista feminino da situação, no entanto o livro se torna muito cansativo (pelo menos pra mim) pelo fato da escrita sem muito difícil, muitas vezes eu parava de ler pra pesquisar os significados das frases, sem contar em capítulos exaustivos de acontecimentos soltos. Mas a história me si é muito boa, tem romance, drama, enfim. Entendo o porquê da escrita ser assim, pela época que foi escrita. Mas pra quem não tem costume com livros de época, pode acabar não gostando tanto da leitura.
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Nattt 10/04/2014

Só para guerreiros rs
Li esse livro a duras penas porque a linguagem é complicada. A história se passa no ano de 1555, uma caravela chega ao Brasil trazendo orfãs de Portugal para que se casem com os nativos de cá e é narrada pelas vivências de uma das orfãs, Oribela, que passa o livro inteiro com o desejo fulgaz de se ver livre daquelas terras e voltar para Portugal, para o seu lugar de origem. Resumidamente é isso, desisti de lê-lo várias vezes, porém me cativa a forma como a Ana Miranda escreve. Por mais cansativo que o livro seja (e foi) gosto bastante da forma que ela me prende, nesse ponto e na história em si (para quem gosta de História do Brasil), ela dá sempre um show!

Antes de pegar esse livro, que não nego, me chamou atenção pela gravura da capa, vim pesquisá-lo no skoob e não achei nenhuma resenha e muitos abandonos. Pra encerrar, não gostei do final, não gosto da angustia dela porque faz com que o livro gire ao redor apenas disso. Não sei se o recomendo, recomendaria Dias & Dias.
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Wags 11/03/2017

Que pisão nos livros de história
Conheci Desmundo através de uma disciplina da faculdade que abordava o inicio da literatura no Brasil, e a fim de complementar a disciplina, minha professora nos passou a adaptação para os cinemas. Hoje, ao terminar de ler o livro entendi bem o porquê. Desmundo se configura como uma crônica bem relatada da terra do Brasil por um olhar nunca antes visto, o da mulher. É aqui que veremos um lado totalmente enterrado, tal qual foi a literatura produzida pelos negros nesta época. Oribela documenta toda a sua visão a caminho deste desmundo, do seu desvinculo com o mundo peninsular, o mundo de reis e de glórias é trocado pelas selvas infestadas de selvagens perigosos e comedores de gente, simplesmente por ser órfã.
Creio que as desventuras de Oribela não existiriam se ela tivesse nascido como homem, bem como penso que talvez eu não tenha abarcado toda a carga deste romance exatamente pelo fato de eu não ser uma mulher, as pessoalidades não só de Oribela como das outras das outras jovens é algo que me falta, mas que mesmo assim não acabou me deixando sem agonia, sem reflexões e sem atentar para as diversas nuances misóginas que existem até hoje.
Ana Miranda é forte, direta e cortante. Seus capítulos de uma página recheados de uma brilhante poesia em prosa, também são responsáveis por construir uma narrativa sombria, num relato que desvirtua totalmente a visão das crônicas de viagem da literatura de Informação.
É uma leitura maravilhosa, e por incrível que pareça, com um final feliz, apesar das consecutivas desgraças ao longo da narrativa, pontos para dona Miranda.
Pri Siniak 15/10/2017minha estante
Comecei a ler por causa de um trabalho da escola. Estou achando bem interessante. Apesar da linguagem direta e um tanto quanto complicada.




Thalya 01/02/2021

A perspectiva feminina sobre o contexto de colonização portuguesa
Nesse romance histórico seremos apresentados a Oribela, uma órfã que como outras foi enviada ao Brasil no século XVI, para que se casasse com um dos portugueses que aqui estava e habitava (lembrem-se da colonização).

A epígrafe demonstra claramente:

Já que escrevi a Vossa Alteza a falta que nesta terra ha de mulheres, com que os homens casem e vivam em serviço de Nosso Senhor, apartados dos pecados, em que agora vivem, mande Vossa Aleza muitas orphãs, e se não houver muitas, venham de mistura dellas e quaesquer, porque são tão desejadas as mulheres brancas cá, que quaesquer farão muito bem à terra, e ellas se ganharão, e os homens de cá apartar-se-hão do pecado (NÓBREGA, 1552 apud MIRANDA, 2003).

A justificativa para a cristandade da época: as mulheres, as indígenas (nem eram consideradas seres humanos, muito menos uma delas) não eram aptas, eram pecadoras, pagãs e, por isso, condenadas automaticamente ao inferno.
E como o próprio título aponta, veremos a perspectiva de uma mulher obrigada a assistir os sofrimentos que acometiam a si mesma, as outras e ao povo que aqui vivia. Um Desmundo, destruidor e que engolia a si mesmo em violência e bárbarie.
Devemos acrescentar que essa perspectiva feminina sobre um fato da História foi apagada e esquecida durante muito tempo em documentos, imagine isso em romances.
Como Romance Histórico ficção e realidade se unem de forma mais intrínseca e perceptível, gerando uma reflexão mais direta acerca da nossa História e de nosso lugar.

A vista de uma colina distante tangeu dentro do meu coração músicas de boas falas, com doçainas e violas d’arco, a ventura mais escondida clareia a alma. Ali estava bem na frente a terra do Brasil, eu a via pelos estores treliçados, lustrada pelo sol que deitava. Uxtix, uxte, xulo, cá! Verdadeira? Tão pequena quanto pudesse eu imaginar, lavada por uma chuva de inverno, verde, umas palmeiras altas no sopé, por detrás de nuvens de tapeçaria, véu de leve fumo. Hio, hio, huá. Espantada que a alegria pudesse entrar tão profundamente em meu coração, em joelhos rezei. Deus, graças, fazes a mim tua pequena Oribela, a mais vossa mercê em idade inocente, um coração novo e um espírito de sabedoria, já estou tão cegada pela porta dos meus olhos que nada vejo senão deleitos, folganças do corpo, louvores, graças prazentes e meu coração endurecido, entrevado sem saber amar ou odiar. Assim como o azeite acende o lume, a vista acende o desejo. Dá a mim a graça de muitas lágrimas com que lavar o meu sonho, maior que o meu corpo (MIRANDA, 2003, p.11).


site: thalyalee.blogspot.com
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Helô 30/07/2015

Leitura enriquecedora.
Com um título sugestivo iniciado por um prefixo de negação -des nota-se a preocupação em destacar o não mundo existente na narrativa. Lugar esse em que acontece de tudo que se possa imaginar.
Desmundo tem sua narrativa no ano de 1955, sendo assim a autora preservou a linguagem da época retratada, ou seja, um português difícil de compreender o que torna a leitura cansativa. Porém, a cada trecho o leitor é preso pela história por haver poucos indícios do que vai acontecer com os personagens.
A história gira em torno de Oribela uma órfã que chega ao Brasil, juntamente com outras órfãs, para habitar e construir família. A insatisfação de Oribela com a situação em que se encontra é o que move a narrativa.
Enfim, um livro espetacular para os amantes da boa literatura nacional, pois existe uma combinação sensacional dos personagens com a história do Brasil, enriquecendo ainda mais o texto.
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Ana Aymoré 24/02/2019

O paradisíaco e o infernal no desmundo
[...] mal podia eu repousar da vigília sobre nós, os homens seus olhos lançavam, fôramos cargas de uma azêmola, boceta de marmelada, alguidar de mel sendo eles pontas de arnelas, canas agudas, flechas de arcos, espadas de pau tostado, lanças de arremesso, ferrões, açoites, feros animais [...], tomando a cosso para nos possuir, o que lhes nascia de sua cobiça."
.
Baseado num fato histórico - o envio das "Órfãs da Rainha" para o Brasil ao longo do século XVI para suprir a necessidade de mulheres brancas no processo de formação familiar da colonização - Desmundo é um romance excepcional para se pensar a protoformação da sociedade patriarcal brasileira. Os traços dessa formação (expressos, como exemplo, no fragmento acima, que opera com uma rede de metáforas que associa o masculino ao falo agudo/cortante e o feminino ao receptáculo a ser preenchido/possuído) está presente, entre outros aspectos do romance, na construção e no destino das principais personagens femininas, que representam os estereótipos negativos atribuídos a mulheres que não se enquadravam na normatização social do contexto de acumulação primitiva: a Velha, a mulher sábia, transformada em bruxa e condenada a perder sua voz; D. Urraca, duplamente abjeta, sendo mulher e judia; D. Bernardinha, a "macha", que desafia a imposição da heteronormatividade e é duramente castigada; Oribela de Mendo Curvo, a mulher indomesticável, vista como ser possuído por potências malignas, demoníacas, à mercê das forças contraditórias - ora paradisíacas, ora infernais - do desmundo.
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29/08/2021

Apesar do vocabulário mais rebuscado utilizado pela autora, não se trata de um livro difícil de ler, pelo menos não tive problema com isso. As partes mais intragáveis do livro apresentam-se no retrato da crueldade vivida pela protagonista e pelas mulheres da época.
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Na minha humilde opinião pessoal: eu amei este livro e defendo que ele deveria ser o tipo de leitura essencial para os brasileiros, pois apresenta a crueldade vivida pelas que foram arrancadas de seus lares e forçadas a compor o povo brasileiro: a portuguesa (a estrangeira), a indígena (a natural) e a africana (a escrava).
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Nathaniel.Figueire 15/04/2023

Ótimo final!
Não é só pela autora ter feito pesquisa profunda sobre a língua portuguesa do séc. XVI, as mentalidades do início da colonização, os costumes etc. A grande sacada de Desmundo para mim foi a autora pegar tudo isso, escrever uma história com a técnica de fluxo de consciência e entregar essa experiência de forma muito convincente.

Sabe quando você está lendo um romance histórico e daqui a pouco tu percebes que aquilo que o personagem pensa (geralmente narrado em terceira pessoa) é meio anacrônico? Quem entende de história das mentalidades, sabe que é muito fácil incorrer em anacronismo nesses casos... Acontece que, em Desmundo, isso não acontece!

Ana Miranda pega a técnica de fluxo de consciência para nos narrar os pensamentos de Oribela, uma órfã "da rainha" ignorante e analfabeta do Reino de Portugal do século XVI que é jogada na Colônia para se casar com qualquer um que a queira, sem direito a ela de ter qualquer opinião sobre isso. Para nós (que vivemos a liberação sexual, o advento de feminismo etc), é muito natural se rebelar contra uma situação dessas. Porém, isso seria mesmo comum no séc. XVI, onde ideais românticos eram cultivados no máximo no idealismo dos romances de cavalaria e nos versos do trovadorismo?

É possível em algum momento achar que a rebelião constante de Oribela que lemos na forma como seus pensamentos são a nós narrados teria algum elemento anacrônico, mas essa rebelião (contra um destino que ela nem voz teve sobre) foi muito bem construída na rudimentar lógica da personagem. Pareceu-me bem verossímil, convenceu-me sem ficar com aquele gosto de "forçado".

E é pela técnica de fluxo de consciência que o livro nos entrega o final. Eu ADOREI o final! Ela está imaginando? Ou de fato acontece o que a narração de seus pensamentos nos diz que acontece na última frase? A subjetividade que essa forma de narrar permite é muito bem explorada nas últimas linhas, dando ao romance um excelente final aberto.

Gostei bastante de ter lido. Achei bem melhor do que a adaptação fílmica, que "açucara" a relação amorosa entre Oribela e Ximeno para os moldes do romance romântico que predomina no cinema, além de o filme ter enxugado a subjetividade do final do livro.
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Valnikson 16/11/2016

1001 Livros Brasileiros Para Ler Antes de Morrer: Desmundo
A cearense Ana Miranda tem o passado como principal cerne de sua literatura. Bastante reconhecida tanto em esfera nacional quanto internacionalmente, ela realiza na maioria de suas obras a reconstrução ficcional de alguma época, exercitando o preencher de lacunas da história sem ignorar costumes, acontecimentos e personagens reais. Esse trabalho de elaboração pode ser conferido em Desmundo, romance que toma como ponto de partida o episódio ocorrido em meados do século XVI, em que algumas órfãs foram enviadas de Portugal para se casarem com os primeiros colonizadores do Brasil. (Leia mais no link)

site: https://1001livrosbrasileirosparalerantesdemorrer.wordpress.com/2016/11/16/78-desmundo/
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