Thalya 01/02/2021
A perspectiva feminina sobre o contexto de colonização portuguesa
Nesse romance histórico seremos apresentados a Oribela, uma órfã que como outras foi enviada ao Brasil no século XVI, para que se casasse com um dos portugueses que aqui estava e habitava (lembrem-se da colonização).
A epígrafe demonstra claramente:
Já que escrevi a Vossa Alteza a falta que nesta terra ha de mulheres, com que os homens casem e vivam em serviço de Nosso Senhor, apartados dos pecados, em que agora vivem, mande Vossa Aleza muitas orphãs, e se não houver muitas, venham de mistura dellas e quaesquer, porque são tão desejadas as mulheres brancas cá, que quaesquer farão muito bem à terra, e ellas se ganharão, e os homens de cá apartar-se-hão do pecado (NÓBREGA, 1552 apud MIRANDA, 2003).
A justificativa para a cristandade da época: as mulheres, as indígenas (nem eram consideradas seres humanos, muito menos uma delas) não eram aptas, eram pecadoras, pagãs e, por isso, condenadas automaticamente ao inferno.
E como o próprio título aponta, veremos a perspectiva de uma mulher obrigada a assistir os sofrimentos que acometiam a si mesma, as outras e ao povo que aqui vivia. Um Desmundo, destruidor e que engolia a si mesmo em violência e bárbarie.
Devemos acrescentar que essa perspectiva feminina sobre um fato da História foi apagada e esquecida durante muito tempo em documentos, imagine isso em romances.
Como Romance Histórico ficção e realidade se unem de forma mais intrínseca e perceptível, gerando uma reflexão mais direta acerca da nossa História e de nosso lugar.
A vista de uma colina distante tangeu dentro do meu coração músicas de boas falas, com doçainas e violas d’arco, a ventura mais escondida clareia a alma. Ali estava bem na frente a terra do Brasil, eu a via pelos estores treliçados, lustrada pelo sol que deitava. Uxtix, uxte, xulo, cá! Verdadeira? Tão pequena quanto pudesse eu imaginar, lavada por uma chuva de inverno, verde, umas palmeiras altas no sopé, por detrás de nuvens de tapeçaria, véu de leve fumo. Hio, hio, huá. Espantada que a alegria pudesse entrar tão profundamente em meu coração, em joelhos rezei. Deus, graças, fazes a mim tua pequena Oribela, a mais vossa mercê em idade inocente, um coração novo e um espírito de sabedoria, já estou tão cegada pela porta dos meus olhos que nada vejo senão deleitos, folganças do corpo, louvores, graças prazentes e meu coração endurecido, entrevado sem saber amar ou odiar. Assim como o azeite acende o lume, a vista acende o desejo. Dá a mim a graça de muitas lágrimas com que lavar o meu sonho, maior que o meu corpo (MIRANDA, 2003, p.11).
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