emmanuel_arankar 21/07/2023"Battle Royale, Volume 2" de Koushun Takami e Masayuki Taguchi
O segundo volume de "Battle Royale" mergulha ainda mais fundo nas intricadas tramas e nos conflitos que compõem essa obra. Com o cenário e os personagens devidamente estabelecidos no primeiro volume, este segundo ato nos permite explorar mais a fundo a ilha e as diversas personalidades que a habitam. Este volume enfoca consideravelmente o desenvolvimento dos personagens, o que é uma adição bem-vinda após a cuidadosa preparação realizada anteriormente.
A temática central de "Battle Royale" começa a emergir de maneira mais profunda no segundo volume. A ideia de esperança e fé, que são fortalecidas e, ao mesmo tempo, despedaçadas pelas ações dos outros. A fragilidade da confiança em uma situação aterradora. A importância de reconhecer quando se precisa dos outros. Mensagens profundas e impactantes se escondem por trás das imagens chocantes que são apresentadas nas páginas.
Este segundo volume retoma a narrativa na mesma noite em que o primeiro volume terminou. Mitsuru Numai, um leal membro da gangue de Kazuo Kiriyama, foi convocado por seu chefe para a rocha mais ao sul da ilha. Ele espera encontrar Kazuo e os outros membros de sua equipe ali, todos determinados a elaborar um plano para burlar o sistema e escapar do "Programa" de uma vez por todas.
Porém, a esperança de Mitsuru se desvanece quando Kazuo joga uma moeda no ar, determinando o destino deles. Cara, ele permaneceria com sua gangue. Coroa, ele jogaria o jogo e mataria todos eles na tentativa de sair da ilha. A moeda não cai como Mitsuru desejaria, e ele se torna um dos treze estudantes mortos antes mesmo do início oficial do "Programa".
O mangá dedica dois capítulos inteiros para estabelecer Kazuo como o grande vilão do "Programa". Ele é implacável, sociopata e brutal na forma como elimina seus inimigos e até mesmo seus aliados, tudo isso sem demonstrar qualquer emoção em seu rosto. Kazuo não parece sentir prazer em ferir ninguém; para ele, isso é apenas uma tarefa necessária, como escovar os dentes ou vestir roupas.
Dois jovens apaixonados escolhem se jogar de um penhasco em vez de participar das mortes. Depois, voltamos a Shuuya e Noriko, os únicos a sobreviverem à primeira noite. Eles fazem um pacto para tentar encontrar qualquer pessoa que não esteja jogando o jogo e trazê-la para o grupo deles. Shuuya está particularmente determinado a abordar os outros competidores com boas intenções, uma estratégia que o coloca em perigo duas vezes seguidas antes de ser salvo e se unir a Shogo Kawada, o misterioso estudante transferido que parece saber muito mais sobre o que está acontecendo do que deveria.
A violência neste volume de "Battle Royale" é menos grotesca, mas ainda assim perturbadora. Agora, temos a oportunidade de conhecer esses personagens antes que sejam mortos, o que torna suas mortes ainda mais impactantes. Além disso, a história revela como as vidas desses estudantes se entrelaçam, lembrando-nos de que todos eles faziam parte da mesma turma e foram escolhidos para participar do "Programa" juntos. Não há alocação aleatória, como nos "Jogos Vorazes", nem participação voluntária, como em "Squid Game".
Esses participantes são amigos, amantes e companheiros de equipe, mas se voltam uns contra os outros tão rapidamente quanto se voltariam contra estranhos. A apresentação detalhada da história desacelera o ritmo, mas também cria uma atmosfera muito mais tensa para o que virá a seguir. Com mais 13 volumes a serem explorados antes de chegarmos ao final de "Battle Royale", essas relações parecem destinadas a se tornar cada vez mais tensas devido à familiaridade que temos com os personagens. Está se aproximando uma confrontação final entre Noriko e Shuuya, uma vez que apenas uma pessoa pode sobreviver ao "Programa".
Até mesmo a inclusão da história extra no final, intitulada "Energia", serve como um lembrete de que todos esses estudantes se conhecem profundamente. Muitos deles são amigos, alguns até mesmo amantes. A proximidade de seus laços é tanto uma fonte de força quanto a maior vulnerabilidade que possuem. Ninguém, nem mesmo Shuuya com sua esperança inabalável, tem total certeza das intenções dos outros.
Tudo neste volume de "Battle Royale" gira em torno da ideia de esperança e fé, que são recompensadas, mas também podem ser fraquezas. Yumiko e Yukiko, duas melhores amigas, são um exemplo disso. Shuuya nos conta, por meio de um longo flashback repleto de elementos cotidianos, que essas duas amigas são como duas metades de uma mesma pessoa. Elas decidem se posicionar em um ponto de observação e revelam sua localização para todos os que estão por perto, declarando que desejam formar uma aliança com qualquer pessoa que não esteja jogando o jogo. No entanto, sua fé logo se revela equivocada quando Kazuo as encontra primeiro e as mata.
"Battle Royale" não é uma história esperançosa, mas também não pretende ser um conto completamente sombrio. Apesar da dura realidade que cerca os personagens, a obra insiste que a escuridão nunca é total. Shuuya, apesar de sua ingenuidade em relação às pessoas ao seu redor, reconhece o risco de se aproximar dos outros, mas ainda quer acreditar que a maioria está disposta a se unir, assim como ele está.
Repetidamente, as pessoas dizem a Shuuya que todos os outros estão jogando o jogo e que provavelmente o matarão se ele tentar se aproximar deles. "A maioria", dizem a ele, "será perigosa".
"Alguns", ele corrige quase toda vez, e esse lembrete é claramente intencional por parte de Koushun Takami. Algumas pessoas não podem ser confiáveis, algumas vão decepcionar ou tentar machucar você. É um fato da vida.
Mas apenas algumas. Não todas. Nem mesmo a maioria. É essa mensagem de esperança que Shuuya tenta incutir nas pessoas ao seu redor e em si mesmo. Mesmo em um contexto tão sombrio como o de "Battle Royale", a cada capítulo, o leitor se pega esperando que, de alguma forma, Shuuya esteja certo.