Adelfos

Adelfos Terêncio




Resenhas - Os Adelfos


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Thalya 19/10/2020

Tipos de educação: a justa medida
A peça teatral Os Adelfos, ou os irmãos, do famoso comediógrafo romano
Terêncio, apresenta uma disputa entre dois irmãos, Dêmea e Micião, envolvendo ira,
confusão, brigas, e principalmente, a discussão sobre qual educação que os dois
ofereceriam a seus filhos seria mais efetiva: o primeiro, o irmão mais rígido e
controlador, representante de uma educação mais próxima da preconizada e defendida
pelos romanos mais tradicionais; e o segundo, um pai mais permissivo e libertino, que
inclusive não se casou, contrariando os preceitos do que era aceito pela sociedade romana
da época.

É importante lembrar que Dêmea é pai dos dois filhos, Ésquino e Ctesifão,
mas por não ter renda suficiente e viver no campo, abdicando de muitos objetos e
sobrevivendo da forma mais simples possível, ele dá seu filho mais jovem, Ésquino, para
que seu irmão, Micião, que ao contrário dele habitava a cidade, e teria mais condições de
cuidar do seu outro filho, afinal não havia constituído família.

Os dois irmãos sempre entram em embates, pois suas perspectivas, visões de
mundo e de educação são diferentes. Dêmea educa Ctesifão rigidamente e
controladamente, enquanto seu irmão criou o mais jovem da maneira mais livre possível.
Cada um apresenta suas falhas, já que a rigidez e mesmo a liberdade aplicadas
exarcebadamente, apresentam problemas: Ctesifão cresce covarde, não conseguindo agir
por si próprio, pedindo ajuda a seu irmão. Ésquino não pensa em consequências e nem
calcula suas ações. E para alcançar o que deseja, na maioria das vezes recorre aos
escravos, que aliás contribuem para a sequência da história, afinal Siro será um mediador
entre pais e filhos, ajudando a esconder segredos, a despistar Dêmea de descobrir que

Ctesifão estava com a citarista roubada por seu irmão. Além dele, o escravo Geta,
mensageiro de Sóstrata, a mãe da infeliz "atacada" por Ésquino, será outro importante
mediador entre os personagens principais e a ação de tudo. Vê-se que nenhum
personagem é jogado ao acaso, todos possuem sua função.

Quando Ctesifão se apaixona por uma citarista, não conseguirá ele próprio ir
até ela, pedindo auxílio de Ésquino, e o medo de repreensão de seu pai é revelado na
peça. O irmão mais jovem, por sua vez, pela permissividade exagerada, nove meses atrás
comete um crime: viola uma moça pobre, e assim, se compromete a casar-se com ela,
mas acaba deixando de revelar para Micião, também por medo.

Pode-se observar que ambas os ensinamentos dos pais irão encontrar
barreiras, contudo, por se tratar de uma comédia, é claro que tipos humanos e suas ações
seriam retratadas para que o público pudesse evitá-las; os personagens teriam problemas
e mesmo ao fim da peça, continuarão a alimentar velhas faíscas de ira, diga-se de
passagem. Dêmea resolve se vingar ao final de Os Adelfos, se tornando o libertino e
obrigando Micião a praticar atitudes que ele não pretendia. Para o primeiro, essa seria a
demonstração de que seu irmão só fazia o que os outros queriam porque queria afeto e
carinho, e não porque desejava ajudá-los. Essa é a reviravolta da história: Dêmea deixa
pra trás sua ira explosiva - usando como exemplo o que Sêneca escreveu em Da Ira - e
resolve pensar racionalmente no comportamento de seu "inimigo", seu irmão. Micião por
sua vez, mostrava orgulho e escondia seu vício com a máscara da indiferença.

Muitos problemas são resolvidos: a moça violada por Ésquino se casará com
ele. Dêmea descobrirá que seu filho, Ctesifão não está totalmente isento de cometer erros,
mesmo que ele tenha o ensinado e protegido, teoricamente, deles ao ensiná-lo pela
rudeza, controle e descobrindo a paixão de seu filho pela citarista, o deixará ficar com
ela.

Qual seria então a melhor educação, visto que os dois pais erraram? Antes de
tudo, um equilíbrio entre ambas seria a melhor escolha, tal como defendiam os romanos:
a justa medida. O que podemos inferir é que Terêncio teve um objetivo ao passar a
mensagem necessária de equilibrar ações e agir com sabedoria.
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