O Julgamento do Diabo

O Julgamento do Diabo Philip Pear




Resenhas - O Julgamento do Diabo


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brenerino 09/01/2023

Uma forma interessante de conhecer o trabalho do autor
6/10

Philip Pear (ou Felipe Pereira) é um escritor da minha cidade, me interessei em conhecer o trabalho dele já que nessa minha peregrinação por obras nacionais dou uma prioridade pra quem tá mais perto, pois é interessante conhecer colegas escritores que moram próximo de você.
Em “O Julgamento do Diabo” a gente tem uma trama simples, porém bem desenvolvida na medida do possível. Um homem quer processar o tinhoso por razões e tudo gira em torno disso. A obra flerta com o sombrio, mas não chega a ser um livro de terror, talvez um livro de mistério sobrenatural. A proposta do livro é mostrar que todo mundo tem uma parte podre e no começo ele faz muito bem isso, embora não se aprofunde bastante. Não vou julgar capa e muito menos diagramação nessa mini crítica, até porque é uma obra independente então eu tenho que olhar pra ela dessa forma.
Em uma novela é muito difícil errar, já que assim como nos contos é uma história sucinta que não larga muito espaço pra fazer barriga ou furos, aqui não é exceção, mas claro, tem coisas que me incomodaram um pouco.
Dito isso, vou listar como sempre o que gostei e o que não gostei evitando spoilers maiores;

Pontos positivos:
- Quando a história de fato começa ela passa a ter uma escrita mais rebuscada, como acaba sendo "um livro dentro do livro" eu aceito totalmente isso, pode ser só o estilo de escrita do autor fictício, o que explicaria os diálogos terem algumas frases com palavras menos comuns de serem ditas e adições de situações ou coisas que não fariam sentido a pessoa que contou a história para o escritor saber. A famosa liberdade artística, sabe? Sou completamente ok com isso;
- Existe uma certa ironia poética sobre quem representa Lúcifer no tribunal inicialmente ser um cara chamado Miguel, achei um bom ponto;
- Não tem como, a melhor parte do livro é o capitulo 4, o twist que a obra dá nesse momento é maravilhoso;
- A crítica que o livro faz é atemporal, as pessoas são responsáveis por seus atos e tudo mais, embora seja um ponto positivo bem fraco que acredito que devesse ser um pouco mais explorado já que nem todo mundo é preto no branco como a obra tenta passar;
- Lúcifer por si só, o cara tem presença, é excêntrico e todo o resto;
- Sei que o intuito do livro é focar no julgamento em si, mas acho que a partir do momento em que Lúcifer em pessoa (?) faz uma parada em uma cidade interiorana ia ser interessante ter um pedacinho de capitulo só pra mostrar como os moradores locais reagiram a isso, tipo, o cara tá andando com um zumbi advogado do lado em uma cidade pequena no interior de Rio Grande do Norte, deve ter gerado umas cenas meio bizarras/engraçadas;
- Acho engraçado quando o promotor tenta de toda forma incriminar o diabo pegando coisa lá de trás e trazendo pra atualidade, ele até se embola e fala que se não fosse pelo tinhoso todo mundo falaria a mesma língua sendo que quem destruiu a torre de Babel foi Deus;

Pontos negativos:
- A narrativa do escritor (personagem) oscila entre passado e presente várias vezes e não digo isso como se o personagem estivesse citando o passado ou coisa do tipo, ela realmente oscila;
- Isso não é muito uma crítica é apenas uma dica e/ou observação, as elipses ocorrem normalmente no livro como em qualquer outra obra, o problema é que não existe nada que indique que elas acontecem (um espaçamento de dois parágrafos por exemplo), tira um pouco da dinâmica da leitura;
- A parte da mãe de santo não é algo que me incomoda como um todo já que não faço parte de nenhuma religião de matriz africana e entendo que talvez essa tenha sido uma das formas que o autor encontrou de fazer o contato com o sobrenatural, mas vejo que possui sim alguns problemas e provavelmente alguém que faz parte possa ficar um pouco ofendido com isso. E de novo, dá pra só dizer que é liberdade artística do personagem escritor, já que não tem condições do tal Isaque Valmora saber que isso aconteceu;
- Durante o tribunal existe uma personagem praticante de magia e ela é muito caricata, parece o tipo de coisa que uma pessoa que nunca pesquisou sobre bruxaria e afins descreveria se perguntassem o que alguém de religião pagã faz;
- Isso é mais uma observação do que qualquer outra coisa eu só não sabia onde colocar, um dos personagens durante o julgamento diz que pegou trauma de corvos por causa de um evento, isso não muda muita coisa na vida dele, não existem corvos no Brasil. O máximo que pode acontecer é ele ver "Os Pássaros" do Hitchcock e ter uma crise de pânico;
- Muitos dos personagens são unidimensionais, eu mesmo tive uma dificuldade enorme pra identificar eles durante a trama e me perdia muitas vezes nos nomes já que nenhum deles tinha uma característica muito marcante, nem a maneira que eles falavam era diferente, parecia que todo mundo era o mesmo;
- Ainda no tópico anterior, o personagem que decide processar o diabo não tem muita participação na trama além de ser um mero espectador, assim como o advogado de defesa dele. O autor diz que o advogado teve uma participação muito importante nos bastidores, mas é aquilo né, mostrar, não contar. Só dizer que tal pessoa fez algo tira toda a profundidade daquilo.
- Outro ponto pra se destacar é que embora a história se passe em uma região interiorana do nordeste, nenhum personagem usa uma giarizinha local, é estranho (dá pra encaixar no liberdade artística do escritor fictício, mas vocês me entenderam)
- O autor utiliza de MUITOS termos jurídicos e palavras mais rebuscadas, uma pessoa comum que não tá habituada com esse tipo de linguagem fica confusa, nem todo mundo sabe como um tribunal funciona e a escrita não facilita você a entender, é complicado;
- A reta final é meio cansativa, sabe? Mucho texto só pra fechar as pontas em um monólogo enorme vindo de cada uma das partes;

Tiveram mais pontos que me desagradaram, mas dá pra encaixar esses pontos em qualquer outro tópico acima, o livro é sim bom e cumpre o que promete, a mensagem dele tá ali e você absorve, ela reflete bastante coisa na sociedade atual e yada yada.
Acredito eu que em uma possível republicação passando por uma leitura critica, leitura sensível e outras coisas o livro possa sim ser mais digerível (um capista e um diagramador com experiência na área tb ajudaria a ser mais chamativo). De resto é um bom trabalho, é baratinho então acho que vale a pena pra conhecer o trabalho do autor e pra ter a obra na coleção.

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Felipe.Pereira 30/06/2020

Livro Necessário
Este livro mostra escancaradamente o quanto o ser humano tem se corrompido, leitura obrigatória. De forma fugaz e cativante, este livro deixa uma marca no leitor.
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