Aos 7 e aos 40

Aos 7 e aos 40 João Luis Anzanello Carrascoza




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Stella F.. 17/12/2021

A infância e sua aura mágica
Adorei conhecer esse autor. A prosa dele é belíssima!

O livro é dividido entre infância (7 anos) e a vida adulta (40 anos). Um capítulo intercalando com o outro. Achei muito interessante a escolha dos títulos dos capítulos, sempre como se fossem opostos: Depressa e Devagar; Leitura e Escritura. Nunca mais e Para sempre; Dia e Noite; Silêncio e Som.

O autor divide os capítulos entre o personagem na infância que tudo quer fazer e tem pressa e na vida adulta onde não tem mais pressa, vai vivendo aquele cotidiano, sem muito prazer e enfrentando a dissolução de um casamento e um grande amor pelo filho.

O menino vai nos falar de seu sentimento por Teresa, sua prima que veio do Rio de Janeiro, vai falar do canto dos passarinhos do seu vizinho Seu Hermes, de seus amigos de infância, da vontade de ter um pássaro só dele, e vai brincar muito e aproveitar a natureza, aprender o salto em altura, até se deparar com algo que ronda a todos: a morte. Nos sentimos perto dele, como se fosse nosso amigo, porque o narrador é em primeira pessoa, mais íntimo. O dia do menino transcorre na correria: “Assim era um dia, e outro também: eu despertava, me enfiava no uniforme e no menino que me cabia, o café da manhã vinha a mim, eu e meu irmão indo para a escola.” (posição 150)

“Apesar de imóveis ali, havia poucos minutos, eu sabia, e ele também, que Seu Hermes nunca mais poderia nos devolver a bola.” (posição 142)

O relato adulto é feito em terceira pessoa, portanto mais distante de nós leitores. O homem dirige todo dia para o trabalho, volta cansado e “anestesiado pelo esquecimento provisório.” (posição 32) Gosta da rotina, saber que tudo está no lugar, que a mulher o está esperando, que tudo funciona e ele pode descansar para o dia seguinte. Mas ao ter que socorrer o filho por causa de uma febre sente-se “um apêndice”, como se apenas a relação entre mãe e filho se bastassem. Um tempo depois vemos o casamento se desmoronar e a separação trazer um desconforto ao homem pelo afastamento do filho que tanto ama. E os finais de semana passaram a ser a espera do filho tão querido e sua programação juntos. “Acostumara-se a tê-lo tão pouco, depois da separação, que bastava um telefonema, como migalha a um faminto, para calar em sua alma a dor da ausência.” (posição 522) No final tenta resgatar o que ficou no passado, retornando ao local onde foi feliz na infância, agora levando o filho. Mas não há volta possível. Querer que o passado esteja estático é impossível. Mudamos de idade assim como a vida caminha sempre em frente. “Então, morriam nele, uma a uma, aquelas lembranças, justamente ali, onde haviam nascido.” (posição 1017)
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