Jéssica 04/02/2014"Escolha o seu sonho" de Cecilia Meireles e confissões O livro "Escolha o seu Sonho" de Cecília Meireles foi um reencontro com a autora que fez parte de meus dias de pré-adolescência e adolescência onde buscava em seus poemas um conforto de sua beleza através suas palavras, sonoridade e sentidos. Agora, eu li um livro de crônicas onde não fui esperando a mesma Cecília dos poemas, mas a busca de conhecê-la melhor. Assim, em cada crônica foi um abraço, do qual eu reencontrei sua leveza, sua crítica, sua delicadeza e sua liberdade em todo o livro, o que foi para mim algo muito gostoso.
Neste livro, Cecília Meireles brinca com as palavras onde habita crônicas que envolvam o seu entendimento de liberdade, incerteza, solidão, o ato de sonhar e ser feliz. Podemos ver que ao mesmo tempo brinca com as palavras e faz sua crítica aos assuntos abordados, como ela deixa explícito na primeira crônica chamada "Liberdade", que:
"Diz-se que o homem nasceu livre, que liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há liberdade não há pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que renunciar à liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é o maior bem do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão; nossos bisavós gritavam "Liberdade, Igualdade e Fraternidade!"; nossos avós cantaram: "Ou ficar a pátria livre/ ou morrer pelo Brasil!"; nossos pais pediam: "Liberdade! Liberdade!/abre as asas sobre nós"; e nós recordamos todos os dias que "o sol da liberdade em raios fúlgidos/brilhou no céu da pátria..." - em certo instante.
Somos pois criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposição de cantá-la, amá-la, combater e certamente por ela.
(...)
Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes." (p. 9-10)
Ao mesmo tempo que gosta de criticar, ela também faz confissões como leitora:
"Hoje eu queria ler livros que não falam de gente, mas só de bichos, de plantas, de pedras: um livro que me levasse por essas solidões da natureza, sem vozes humanas, sem discursos, boatos, mentiras, calúnias, falsidades, elogios, celebrações..." (p.138)
Além disto, ela mostra sua admiração por Matsuo Bashô, Carlos Queirós,Victor Hugo, Falkner, Mário de Andrade, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Portinari, Ouro Preto e pelos bem-ti-vis.
Perto do fim do livro, eu encontro a crônica que dá nome ao livro "Escolha o seu sonho", do qual ela conecta todas outras crônicas propondo que:
“Devíamos poder preparar os nossos sonhos como os artistas, as suas composições. Com a matéria sutil da noite e da nossa alma, devíamos poder construir essas pequenas obras-primas incomunicáveis, que, ainda menos que a rosa, duram apenas o instante em que vão sendo sonhadas, e logo se apagam sem outro vestígio que a nossa memória.
(...)
Devíamos poder sonhar com as criaturas que nunca vimos e gostaríamos de ter visto: Alexandre, o Grande; São João Batista; o Rei David, a cantar; o Príncipe Gautama...
E sonhar com os que amamos e conhecemos, e estão perto ou longe, vivos ou mortos... Sonhar com eles no seu melhor momento, quando foram mais merecedores do amor imortal...” (p. 143 e 145)
Não sei bem se a todos que leram este livro foi tão agradável lê-lo, mas digo para quem se interessou não desistir dele logo nas primeiras páginas. Ela transmite seus pensamentos de forma tão sensível na qual será fácil se identificar com algumas confissões dela no livro.
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