Michel Foucault

Michel Foucault Gilles Deleuze




Resenhas - Michel Foucaul


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Jess.Carmo 03/07/2021

Uma leitura sui generis de Foucault
Encontramos aqui uma boa aula sobre o poder na obra de Michel Foucault. Para Foucault, o poder é relação de força. Entretanto, encontramos na leitura deleuziana de Foucault um acento muito maior na estratificação do poder sob a forma do Estado. O Estado não é o aparelho que detém e distribui o poder, mas o estrato, o efeito do poder. Isso quer dizer "que o aparelho de Estado é uma forma concentrada, ou ainda uma estrutura de apoio, de um sistema de poder que vai muito além e mais profundamente. [...] Um sistema de poder que percorre a totalidade do corpo social. Ele não pode funcionar senão engrenado, ligado a poderes distribuídos no interior das famílias, comunidades religiosas, grupos profissionais etc. E é porque existiam essas microinstâncias de poder na sociedade que algo como esse novo aparelho de Estado pode efetivamente funcionar" (FOUCAULT, p. 23).

Nesse sentido, a microfísica constitui a macrofísica do poder. Vejam, quando se fala de microfísica do poder, não estamos falando de algo que é do nível individual e psicológico ou de dizer que tudo é política, mas que o poder funciona muito mais no nível do que aqui Deleuze chama de sociologia molar. "O Estado se apropria das disciplinas, não está na origem das disciplinas. As disciplinas da escola, do exército, as disciplinas da Igreja etc. sempre precederam o Estado. As técnicas disciplinares são recuperadas pelo Estado. Eles não encontram sua origem no Estado" (p. 35).

O poder como relação de forças também reprime, também violenta corpos vulneráveis. Porém, encontramos em Foucault um acento muito maior na característica de incitar novas relações de poder. Uma força nunca pode violentar outra força, mas pode incitar outra. A violência só pode reprimir objetos, mas quando se trata de agir sobre outra força, ela só pode incitar, suscitar e combinar.

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É curioso notar que Deleuze assume uma leitura sui generis de Foucault. Por exemplo, ele admite que diagrama não pode ser considerado um conceito central na obra foucaultiana. Para o autor, não se trata de dizer que é possível fazer qualquer leitura de uma obra - "obviamente existem leituras insustentáveis", mas que é possível colocar acentos em conceitos que o próprio autor da obra não colocou. Foucault coloca o acento nas "formações discursivas", Deleuze põe o acento no "diagrama". Me parece que encontramos esse tipo de leitura deleuziana também em seus livros sobre Kant e Bergson.

Deleuze também deixa claro que existe uma diferença entre poder e saber em Foucault. Vejo alguns colegas foucaultianos dizendo que poder é saber. Realmente não se trata disso. Se poder fosse saber, não faria sentido fazer essa diferenciação. Além disso, o poder tem primazia sobre o saber. Bem, mas também não existe poder sem saber e vice-versa. Deleuze diz que há uma aproximação dessa heterogeneidade do poder-saber com a diferenciação que Kant fazia entre a razão prática e a razão teórica. Para Kant, a razão prática tem primazia sobre a razão teórica. "A razão prática é determinada pela lei moral, de acordo com Kant, mas a lei moral não é conhecimento ou objeto de conhecimento. Não há nada a conhecer na razão prática. Em Foucault é diferente porque tanto o saber quanto o poder se referem a práticas. Para Foucault, existem apenas práticas. Ainda assim, as duas práticas, a prática do saber e a prática do poder, são irredutíveis. Portanto, esse poder não pode ser conhecido. No entanto, há pressuposição recíproca ou, pelo menos, o poder será indiretamente conhecido, será conhecido nas relações de saber. É o saber que nos dará conhecimento do poder" (p. 10).

Também encontramos algumas informações sobre o trabalho de Foucault como militante no "Grupo de informação sobre as prisões" (GIP). O GIP fora responsável por importantes intervenções em favor dos presos políticos - sobretudo do grupo maoísta Gauche Prolétarienne - na imprensa francesa. Também foi uma tentativa de colocar em prática uma luta sem representantes. Vejam, a crítica foucaultiana à representação se estende também à luta política. Não há ninguém que pode dizer "eu represento estes aqui". Enfim, claramente isso não funcionou. Teve seus efeitos, mas o GIP logo se dissolveu.


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