spoiler visualizarMarina 09/10/2012
Esse é e tem sido ao longo dos anos, meu livro preferido.
É muito difícil descrever o impacto que esse livro tem em mim. Aliás, acho que poderia dizer 'o impacto que esse livro tem nas pessoas', pois muitos dos que já contagiei (e os amigos e amigos dos amigos deles que acabaram sendo contagiados), o leram em pouquíssimo tempo e também ficaram apaixonados. Esse livro transcende as páginas, ele é quase como um filme.
A história em si, já é fascinante: Passamos a conhecer o mundo do circo, mais especificamente do trapézio, como quem olha por detrás das cortinas da coxia, em primeira mão. Passamos a conhecer e acompanhar (e amar e odiar) uma família italiana, tão unida quanto problemática, ao nos vermos no lugar daquele que "vem de fora" fazer parte desse universo, um dos dois personagens principais, Tommy. Presenciamos o desabrochar de um romance homossexual em tempos difíceis, onde a homossexualidade era absolutamente taboo (anos 40/50), entre dois personagens tão ricos que nos parecem completamente reais.
Mesmo abordando um tema tão único, em um cenário/contexto histórico-social tão rico, o que conquista em salto mortal é muito mais sutil: são os personagens e as relações estabelecidas entre eles que apaixonam. Essas pessoas amam, odeiam, compreendem, desprezam, invejam, admiram, sentem raiva, ciúme, medo, preconceito, orgulho, sentem paixão, desejo, lealdade, amizade - às vezes tudo ao mesmo tempo. E o trapézio aqui, deve ser entendido como um desses personagens, pois é uma (oni)presença indispensável, sendo o ponto de encontro de todos esses personagens e narrativas, bem como o motivo de muitos dos dramas e discórdias familiares.
A escrita de Marion surpreende; esse livro não tem nadinha a ver com nada que conhecemos da autora, não há poderes mágicos, terras distantes ou rituais místicos envolvidos. Esse livro é humano e cotidiano (tá, sei que o circo não é exatamente um ambiente "comum", mas vocês entendem, comparando-se a outros planetas...). E ouso dizer que a autora, no seu escrever, se assemelha em muito ao outro personagem principal, Matt/Mário: obsessiva, meticulosa, perfeccionista, forte, intensa e, em momentos especiais, doce, delicada, sutil e acolhedora.
Esse livro traz tantas pequenas tramas - como é difícil crescer e tornar-se melhor que seus pais, reconhecendo a fragilidade dos mesmos; como é amar alguém diferente, que está em outra fase da vida, que vem de outro contexto; qual é o limite entre paixão pelo o que se faz, determinação e obsessão; o quanto nossa identidade está atrelada aquilo que amamos, e a quem amamos, e como lidar com isso quando as coisas mudam; não é fácil amar as pessoas que não somos capazes de compreender; é difícil sair do "centro do palco" e dar espaço para novas gerações: os filhos, as pessoas mais jovens e belas que vem por aí; lidar com os limite do nosso próprio corpo, da nossa própria mente...e infinitas mais - todas elas tão reais, e surpreendentemente, atuais e universais.
Até hoje eu sinto falta dos personagens, e essa sensação de que os conhecemos, de que passamos por muita coisa com eles, de que acompanhamos como uma mosquinha na janela um período de sua vida (e acredito piamente que todas as 895 páginas desse romance lhe são essenciais) é o que mais me encanta. Esse livro envolve, esse livro absorve (quase todos os relatos escritos aqui mostram que as pessoas leram o livro em pouquíssimo tempo, e eu não sou exceção: dois dias quase intermitentes!), esse livro toca, ele livro mexe e remexe no que sentimos, no que acreditamos. Dou todas as estrelas que eu tiver, sempre.