andré 14/11/2020
Um clássico com um herói dispensável
O mangá consegue dar uma continuidade ao filme de animação que é, se não tão densa e complexa sem o contexto politico do filme, uma aula de narrativa de ação. Os desenhos são de encher os olhos e é incrível como o traço preto e branco parece dar uma dimensão muito mais impactante aos cenários e veículos. Seu desfecho apocalíptico não perde em nada para qualquer filme catástrofe e no geral é bastante ousado para os padrões atuais de narrativa. Existe, talvez em uma extrapolação da obra, ou em alguma dimensão mais velada, uma crítica ao militarismo cego, ao herói rambolesco dos anos 80 e 90, que denuncia o perigo do armamentismo. Mas um ponto (não sei o quão negativo, afinal, por mais improvável pode ainda ser proposital) me chamou atenção: Kaneda não serve para nada na história. Ao contrário, ele orbita como um coadjuvante promovido a protagonista sem proposito algum. Ele não tem nenhuma habilidade decisiva, suas ações só servem para engrossar o caos que permeia a história (de forma magistral, diga-se de passagem), mas não impactam nem alteram nada. Ele em suma não contribui para os eventos e conclusões, embora o vilão tenha ele como maior inimigo, ele é justamente o único que não representa ameaça a ele, tanto que seus embates embora tenham cenas para causar ereções no publico masculino, como um soco no rosto clássico dos mangas shounen, quase sempre começam e terminam abruptamente para dar lugar a algum acontecimento relevante ou inimigo mais provavel. Na verdade, se retirar o Kaneda nada, absolutamente nada na história seria alterado, exceto talvez o sentimento de rivalidade entre ele e o Tetsuo, mas essa relação poderia ser estabelecida com qualquer outro membro da gangue, que no geral, estão sempre mais engajados nos acontecimentos, tanto que vivem precisando explicar ao Kaneda o que está acontecendo. Para mim, parece muito mais um receio de elevar a Kei ao posto de protagonista, afinal ela é muito mais badass e relevante na trama que o Kaneda, do que uma escolha puramente narrativa.