Senhores do orvalho

Senhores do orvalho Jacques Roumain




Resenhas - Senhores do orvalho


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Luiz Pereira Júnior 20/04/2024

Conhecendo as margens...
Primeiramente, o resumo da ópera: em uma região miserável do Haiti, um filho retorna à casa paterna após uma longa temporada de trabalho em Cuba, onde foi preso por participar de encontros políticos e greves pela melhoria de condições de trabalho. Ele encontra uma região devastada pela seca, causada inclusive pelos próprios habitantes do povoado, que, por razões de extrema necessidade, devastaram as florestas que protegiam as nascentes que irrigavam suas plantações. Encontra também a miséria de uma terra afligida por conflitos de sangue, pela exploração do homem pelo homem (mais uma vez vem à mente “o homem é o lobo do homem”) e pelo total descaso dos órgãos governamentais. Apaixona-se pela bela filha da família rival e busca encontrar uma nascente perdida que possa levar a esperança da água a seus conterrâneos.

Sim, o livro é uma mistura do panfletarismo marxista (parecendo-se com as obras da primeira fase de Jorge Amado), de chororô da mãe pelo filho (um dos aspectos mais irritantes, a meu ver do livro, assumindo um tom de pieguismo, em uma versão muito piorada de “A mãe”, de Gorki), da trama de Romeu e Julieta (com um final bem previsível tanto do protagonista quanto de sua amada), de aspectos da obra-prima “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos (e, diga-se de passagem e aproveitando-se do tema da seca que permeia ambos os romances, o que “Vidas Secas” tem de enxuto em sua linguagem “Senhores do orvalho” tem de derramado nela, se é que você me entende).

E, mesmo com tais aspectos negativos (a meu ver, sempre ressalto isso), vale a pena? Com certeza. O fato de mostrar a luta por causas sociais válidas, de retratar dignamente uma religião de matriz africana (o vodu) amplamente discriminada e estereotipada ao redor de todo o mundo (até o Picapau já avacalhou com ela, em um de seus mais famosos episódios), de ser considerado o primeiro romance de um país completamente à margem da assim chamada literatura canônica ocidental (afinal, quantos de nós já leu algum livro cujo autor nasceu no Haiti?) já agrega (eita palavrinha chata!) valor a “Senhores do Orvalho”.

Enfim, se a literatura é um rio, também é necessário conhecer suas margens...
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Alan.Oliveira 03/04/2024

Uma tragédia shakespeariana com um pouco da paixão de Cristo e muito comunismo são a fórmula que deixaram essa história tão boa.
Uma leitura formidável e mais um exemplo da grandeza do realismo mágico latino americano/caribenho.
Certamente vai entrar na minha lista de melhores leituras do ano.
Franciele 03/04/2024minha estante
Paixão de Cristo e comunismo, que belo mix kkk


Alan.Oliveira 03/04/2024minha estante
Pois é, me surpreendeu kkkk




Valéria Cristina 17/08/2023

Adorei!
Este livro foi meu primeiro contato com a literatura haitiana e como valeu a pena!

A história se passa em Founds-Rouge, do Haiti. Manuel, após passar quinze anos em Cuba como cortador de cana, retorna ao seu país natal. Ainda está viva em sua memória as imagens do local que ele deixou há tantos anos. Ocorre que a realidade é muito diferente dessas lembranças.

O que ele encontra é uma terra devastada pela exploração descontrolada do meio ambiente, a devastação das matas, o desaparecimento das nascentes. O fruto disso é a seca, a miséria e a fome. Esse cenário abriga um povo resignado, inerte e sem esperança. Manuel, inconformado com essa visão – e com o aprendizado que teve em Cuba sobre o poder da união -, põe-se a engendrar uma maneira de ressuscitar a terra e insuflar esperança em seu povo. Ao conhecer Annaïse, encontra nela seu amor e uma aliada.

Essa é uma história de amor romântico, certamente, mas também de amor pela terra, pelo povo e que mostra o poder da concórdia, da colaboração, da unidade e da reconciliação.

Com uma linguagem poderosa e poética, Jacques Roumain nos apresenta o Haiti de seu tempo, suas paisagens, seu povo, sua forma de vida: os rituais do vodu haitiano, a fé sincrética da população, o interesse dos poderosos na miséria em que está imersa a aldeia, o coumbite, o simidor, amor pela terra.

Jacques Roumain (Porto Príncipe, 4 de junho de 1907 — 18 de agosto de 1944), foi um escritor, político e defensor do marxismo haitiano, considerado uma das mais proeminentes figuras da literatura haitiana. O poeta afro-americano Langston Hughes traduziu algumas de suas obras para o inglês, incluindo Gouverneurs de la Rosée.
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Paulo.Vitor 27/03/2023

Indigenismo Africano.
O livro conta a história de Manuel, haitiano que passou alguns anos trabalhando como fazendeiro em Cuba retornando para sua casa, e ao chegar, vê o país totalmente diferente do período em que saiu.
As terras estavam secas e o povo, desalentado. O diagnóstico foi rápido e preciso, faltava água.
E portanto, o livro conta sobre essa saga em busca da água.
O livro conta, com altas pitadas de ensinamentos e conhecimentos sobre a tão escassa consciência de classe.
Definitivamente, do meio para o final, o livro é de certa forma, previsível, porém, ainda sim, é uma ótima leitura, fluida, bonita, e principalmente enriquecedora com expressões do dialeto haitiano e principalmente, costumes do povo.
Ao final do livro, no ótimo posfácio, vemos que o livro, além de muito bom, também foi muito vanguardista, ao exaltar as culturas nativas do Haiti, em épocas que essas culturas não eram de fato valorizadas nem pelo próprio povo.

Descobri esse livro acompanhado da minha namorada, indo na livraria presencialmente, coisa que não fazia desde antes da pandemia, a capa me chamou a atenção, e a contracapa ainda mais.
Se eu não me engano paguei 36 reais, não é uma leitura demorada, e definitivamente vale a pena, coloquei uns 20 marcadores de trechos que achei interessante e fazia tempo que isso não ocorria.
Virou um dos meus favoritos

Paulo.Vitor 27/03/2023minha estante
Acabei de ver que tem uma sentença ali no meio que não tá fazendo muito sentido.......
deu preguiça vou deixar assim mesmo




olivromefisgou 13/01/2023

Um livro que me fez largar tudo e me dedicar somente a ele. Que escrita maravilhosa essa de Jacques Roumain - uma mistura de Vidas Secas com Romeu e Julieta e uma pitadinha de pimenta de Jorge Amado, que, aliás, foi o organizador da primeira edição da obra no Brasil. Leiam esse livro!!! ????
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Ariadne 18/09/2022

Encantador
"Senhores do Orvalho", de Jacques Roumain, é considerado o livro fundador da literatura haitiana. A história é bem simples: Manuel, protagonista da história, volta para sua terra natal após trabalhar por 15 anos em um canavial em Cuba e encontra uma terra sufocada pela seca e pela fome. Em meio a esse cenário e influenciado pelas ideias socialistas que aprendeu em Cuba, ele está disposto a unir os camponeses para que a situação deles mude e eles finalmente prosperem.

A narrativa é bem simples, mas a história é contada de uma forma belíssima e já para o final do livro me peguei emocionada. Os personagens são muito bem construídos e fiquei realmente muito envolvida com a história. Achei um livro excelente e recomendo a leitura para todo mundo.
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Rittes 13/09/2022

Ainda atual e verdadeiro
Por ser um dos livros que praticamente fundaram a literatura moderna do Haiti, escrito em 1944, "Senhores do orvalho" surpreende pela riqueza, atualidade e emoção. Um dos melhores livros que já li, sem dúvida. Surpreendente na sua simplicidade e extremamente belo, com texto rico e muito bem traduzido, em mais um dos acertos da Carambaia, que quase nunca erra. Este livro já havia saído no Brasil em 1954 com o nome "Donos do orvalho", mas era uma edição praticamente impossível de se achar. Agora, este clássico volta ao seu lugar de destaque. Uma aula de como se escreve numa tocante narrativa. Muito mais do que recomendado. Um livro inesquecível.
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"Aonde você vai Sam?" 02/09/2022

Ayiti pou tout tan! [Haiti pra sempre]
O Bondieu [O Bom Deus] é branco.

O Bondieu não ajuda os senhores do orvalho.

Os senhores do orvalho devem ajudar a si mesmos ou não serão senhores; e não haverá orvalho.
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Pandora 31/08/2022

Considerado o romance fundador da literatura haitiana moderna, Senhores do Orvalho foi publicado em 1944, pouco após a morte do autor, aos 37 anos. Além de escritor, Jacques Romain era político marxista, tendo participado ativamente da luta contra a ocupação do Haiti pelos EUA.

“Vale destacar que, logo após sua publicação original, a obra foi traduzida para diversos idiomas, tendo em conta que o momento era de grande aceitação dos ideais comunistas e forte organização de movimentos sociais, além da situação da morte precoce de seu autor em função de doenças que desenvolveu enquanto preso político. A produção de Roumain está inserida em um contexto mundial de grandes guerras, desenvolvimento de ideais e governos fascistas e estratégias desumanizantes, como o Holocausto. Com base nisso, produções literárias que concediam fios de esperança de transformação da realidade, como a obra “Senhores do Orvalho”, podem ter se tornado extremamente relevantes para aquele momento histórico.” [1]

Em Senhores do Orvalho, Manuel volta ao Haiti após passar quinze anos trabalhando nas plantações de cana-de-açúcar em Cuba. Lá ele havia participado de organizações trabalhistas e de uma greve. Ele encontra seu povoado, Fonds-Rouge, castigado pela seca, seus pais e amigos passando fome e privações. Além disso, durante a sua ausência, uma tragédia havia separado as pessoas em dois grupos rivais. Ele começa a explorar a região em busca de uma nascente de água que possa, não só beneficiar aos seus, como todo o povoado, mas para isso precisa da união de todos.

Começa muito descritivo, o que dá uma desanimada. Acho que a intenção do autor é fazer com que o leitor se coloque naquele lugar, sentindo os efeitos da natureza - e consegue; mas é o tipo de coisa que me dá sono. Leio 500 páginas de fluxo de consciência, mas descrição de paisagem… eu sei, é um problema meu. Tanto que, depois que a história engrena, eu já tinha esquecido dessa minha insatisfação inicial.

A partir da reunião na casa de Larivoire até o fim, fui tomada de uma emoção crescente e pungente. Digam que é utopia, mas a união de um povo por um bem comum nos mostra como somos fortes e a coisas maravilhosas que podemos realizar juntos. Pena que a pequenez seja uma característica tão humana.

Como já foi dito por aí, o rumo desta história é previsível, o que não tira o mérito da narrativa, nem a essência do recado.

“Não é desatino, mãe. Tem os assuntos do céu e tem os assuntos da terra; são duas coisas, não é a mesma coisa. O céu é o pasto dos anjos; eles são felizes; não têm que se preocupar com comida e bebida. E com certeza há anjos negros para fazer o trabalho pesado de lavar as nuvens ou varrer a chuva e limpar o sol depois da tempestade, enquanto os anjos brancos cantam como rouxinóis todo santo dia ou tocam trombetinhas, como aparece nas imagens que vemos nas igrejas.” - pág. 35.

Notas:
[1] Fonte: Resenha Crítica, 25/6/21.

Senhores do Orvalho foi adaptado duas vezes: em 1964, intitulado Cumbite, dirigido pelo mais importante cineasta cubano, Tomás Gutiérrez Alea (disponível no YouTube em espanhol, com legendas em inglês); e em 1975, para a televisão francesa, por Maurice Failevic, com o título original Gouverneurs de la rosée (disponível no YouTube em francês, CC francês).
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Vitoria 07/08/2022

O livro milita sobre pautas marxistas, e a importância da união dos oprimidos como formar de transformar a realidade.

O personagem central parece dar voz às aspirações do próprio autor, também engajado nas causas trabalhadoras.

A narrativa não tem grandes reviravoltas, e é bem didática.
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Sabrina 03/06/2022

Pq o que importa é o sacrifício do homem, o sangue do negro
?Então ela repete: todos nós vamos morrer e chama o bom Deus. Mas é inútil, pois há tantas pobres criaturas que clamam pelo bom Deus com toda a força que o barulho é enorme e incômodo, e o bom Deus ouve e grita: que barulho infernal é esse? E ele tapa os ouvidos. É a verdade e o homem está abandonado.?

Quanta sensibilidade, livro lindíssimo, daqueles que enchem a gente de esperança. Vale muito a leitura.

Ps: São na verdade 203 páginas, não sei como corrigir na publicação.
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Ananda 24/10/2021

O homem e a terra
Depois de passar muitos anos trabalhando em Cuba, Manuel volta a sua terra natal, o Haiti. Sua chegada é uma novidade a pequena comunidade e quando reencontra seus pais logo se dá a notícia que aquela terra está arrasada, e a fome se aproxima.

Com técnicas de agricultura aprendidas em fazendas cubanas, Manuel procura água e terras férteis, mas sua empreitada se prova mais difícil a cada dia, pois o povoado está dividido por intrigas. Com muitas cantigas em crioulo, ajuda dos lóas (espíritos do vodu) e a cooperação de Annaïse (uma moça nativa), Manuel sonha com um coumbite (modo de organização do trabalho rural coletivo, próprio do Haiti) que reunirá o povo.

P.S.: O prefácio de Eurídice Figueiredo é muito bom e mostra o contexto sócio- histórico em que foi publicado o livro, enriquecendo ainda mais a leitura.
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Ana Sá 04/10/2021

Livro não surpreende, mas seduz e enriquece o leitor
Coloco o romance de Jacques Roumain no rol das narrativas que não surpreendem muito o leitor, mas que valem a pena por seu valor literário e cultural. O livro chega a ser previsível, mas é bonito e bom de ler. A leitura flui e encanta em muitos momentos.

Trata-se do romance tido como fundador da literatura haitiana moderna (publicado originalmente em 1944), com evidente beleza estética em muitas passagens.

Só o enredo já é um baita convite: Manuel retorna ao Haiti depois de 15 anos trabalhando com a cana de açúcar em Cuba, de onde volta influenciado politicamente. Ao se deparar com um lar devastado pela seca e pela exploração da mão de obra dos trabalhadores rurais, a personagem se dedica a promover a união e a revolta do povo do campo.

As referências às matrizes africanas da cultura haitiana são um ponto forte do livro. Nesse ponto, foi inevitável notar elos com a cultura negra/afro-brasileira também.

Como eu antecipei, é daqueles romances onde há uma surpresa (ou plot?) apenas no fim, mas que leva o leitor pela mão até o fechamento da história. Gostei muito da experiência de leitura! Foi prazerosa!

Ah, eu li a tradução mais antiga, intitulada "Os donos do orvalho", e cheguei a este livro por causa da recomendação feita pelo autor de "Torto Arado", Itamar Vieira Jr. Como era de se esperar, não decepcionou!
Joao 04/10/2021minha estante
Nossa, adorei a tua resenha. Me deixou com muita vontade de ler esse livro.




Fabiana 20/09/2021

Previsível, porém BELA.
Uma estória muito previsível e nem por isso deixa de ser bela e ter seu valor histórico, atual e singela. Será que é necessário tudo isso para união de um povo para um bem comum? Amei o personagem Manuel.
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Christopher.Juan 25/06/2021

E vamos de literatura haitiana
Livro maravilhoso. Que lindo trabalho da editora de lançar está edição magnífica no Brasil...Sempre com uma tradução espetacular....Adorei conhecer a excelente escrita de Jacques Roumain. Me senti em Founds Rouge com seus personagens que foram se tornando uns queridos ao longo da leitura. Parei para ler buscando o diferente e encontrei semelhanças entre Brasil e Haiti. A escrita vem, com alertas que já deveríamos ter escutado a muito tempo. Devemos nós perguntar, quem ganha com a miséria dos camponeses? Quem ganha quanto a terra se torna improdutiva? Quem se alimenta das inimizades e do rancor? Um livro para quem quer se emocionar, com personagens fortes até o fim! ????????
Ana Sá 25/06/2021minha estante
Está na minha lista deste ano! Adorei a resenha!


Christopher.Juan 25/06/2021minha estante
Que demais, espero que tbm goste do livro!




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