Angélica 05/03/2011Hiroshima, A Cidade da Calmaria No dia 6 de agosto de 2010 o ataque atômico à cidade de Hiroshima fez 65 anos. Aproveitando-se da data, a editora JBC lançou no Brasil o premiado mangá Hiroshima, A Cidade da Calmaria (Yunagi no Machi, Sakura no Kuni no original), de Fumiyo Kouno.
A bomba atômica é um assunto extremamente delicado, e falar dele sem cair em radicalismos ou mergulhar em clichês dramáticos é uma tarefa árdua. Fumiyo Kouno, porém, saiu-se extremamente bem no seu intento de falar sobre o ataque. Hiroshima consegue ser ao mesmo tempo delicado e trágico, alegre e dramático, sem se deixar levar por excessos em nenhum momento.
O volume é dividido em três capítulos. O primeiro, A Cidade da Calmaria, passa-se em 1955 (portanto dez anos após a bomba atômica) e conta a história de Minami, funcionária de um escritório de arquitetura que leva na alma profundas cicatrizes resultantes do ataque de 1945. Este capítulo é basicamente uma história fechada, sendo que sua única ligação com os outros dois é que a protagonista dos mesmos é a sobrinha de Minami. Em A Terra das Cerejeiras (1) e A Terra das Cerejeiras (2) acompanhamos a vida de Nanami, pertencente à chamada segunda geração da bomba (ou seja, é filha de um dos cidadãos de Hiroshima da época do ataque). Estas histórias discutem até que ponto a bomba atômica ainda influencia a vida dos habitantes locais, mesmo nos dias de hoje.
Por se tratar de um volume único não posso falar mais sobre a história, ou acabaria soltando vários spoilers. Mas uma coisa eu posso dizer: Hiroshima é o melhor oneshot que eu já li. O mangá mistura momentos engraçados à momentos trágicos, de modo que se em um momento você está rindo, daqui a algumas páginas pode estar com lágrimas nos olhos (e vice-versa). As personagens são extremamente cativantes, daquelas que continuam presentes na nossa memória ainda muito tempo depois da leitura.
O traço da autora é leve e relaxado, passando bem a sensação de calmaria que ela desejou dar à cidade. A única coisa que me incomoda um pouco é o character design: as personagens são um tanto cabeçudas, e todos são muito baixinhos. Se por um lado isso acrescenta um certo realismo afinal, o povo japonês é realmente um povo pequeno por outro dificulta um pouco a identificação entre adultos e crianças, por exemplo. A arte da capa, toda pintada em aquarela, está linda, e a sensação de paz que ela transmite orna perfeitamente com o ritmo do mangá.
Por se tratar de um mangá com o selo graphic novel, o tratamento dado pela editora JBC está caprichado: A capa é feita de um material mais resistente, e vem com orelhas a da capa fala um pouco sobre a autora e a da contracapa sobre a própria obra. O papel utilizado para impressão é de melhor qualidade, e o mangá está realmente em preto e branco (e não em tons de cinza como alguns mangás da editora...). O que não está nada bom é o preço: mesmo com o tratamento especial, cobrar R$19,90 por um mangá de cerca de 100 páginas é um assalto à mão armada. Em outros países mangás de banca recebem tratamento igual ou superior ao deste volume, e não saem tão caro para o consumidor final.
Hiroshima A Cidade da Calmaria é um mangá excelente, e merece ser lido e relido quantas vezes o leitor desejar. Apesar do preço ridiculamente alto cobrado pela editora, garanto que o volume vale cada centavo.