Lela 04/12/2023Um romance hipotético e um equívoco fluídoCoco ocultava partes de sua história de vida e modificava muitas outras. Chanel jamais pôde ser interpretada como alguém maçante ou simplista. Era complexa e á frente de seu tempo. Nem sei dizer se era esse seu propósito. Usou o que tinha a sua disposição à seu favor. Não julgo.
Por toda essa complexidade, eu acho muito estranho ler uma biografia romantizada de uma parte de sua vida. Me parece leviano demais que eu esteja lendo algo sobre ela que ela mesma não tenha escrito ou pelo menos permitido à escrita. Me senti invasiva lendo esse livro. Era, as vezes, presunçoso demais supor os sentimentos e pensamentos dos dois.
Ler essa história do ponto de vista de um homem é ainda mais leviano. É um romance hipotético sobre o que teria sido o relacionamento de Coco Chanel e Igor Stravinsky e por mais fatos que tenham sido usados para compor essa hipótese, o autor foi extremamente condenscente com a postura e as responsabilidades do Igor, fazendo-o parecer uma vítima nas mãos da cruel e sedutora Chanel.. na realidade, Coco não foi a primeira e provavelmente não foi a última amante do Igor.
No final, o autor tenta reverter essa condescendência com a solidão e o comportamento patético do Igor. E sinceramente?! Não é suficiente..
A escrita é fluída e foi interessante conhecer a história, mas ainda assim o POV é um equívoco.