Euflauzino 19/02/2014Quando se é preciso ser forte e maduro para fazer a escolha certaCá estou de volta ao universo de “A mão esquerda de Deus”, louco pra ler a continuação desta saga que abalou meus alicerces. E nada melhor do que iniciar uma leitura e dar de cara com um diálogo sobre a natureza humana, em que o Redentor Bosco adverte Cale sobre a crueldade e a inevitabilidade de matar:
“— O coração de um homem é pequeno, mas deseja grandes coisas. Não é suficiente para alimentar um cachorro, mas o mundo inteiro não é grande o bastante para ele. O homem não poupa nada que vive; ele mata para se alimentar, mata para se defender, mata para se instruir, mata para se divertir, mata pelo prazer de matar. Do carneiro, ele arranca as entranhas para fazer sua harpa ressoar; do lobo, o dente mais letal para polir seus belos objetos de arte; do elefante, as presas para fazer um brinquedo para seu filho.”
Em As últimas quatro coisas (Suma de Letras, 303 páginas), Paul Hoffman retoma o amadurecimento de Cale, que não é mais um menino, tornou-se amargo, assassino, praticamente indestrutível. É obrigado a encarar novamente seu mestre e algoz, Redentor Bosco, um manipulador por excelência, e por ele é informado de seu papel crucial – destruir a humanidade. Cale é “a mão esquerda de Deus”, o Anjo da Morte. Deverá fazer a escolha – seguir seu destino ou sua consciência.
Mas como controlar alguém com tamanho poder? O jovem pode ir da bondade à violência num piscar de olhos, da mesma forma que uma criança que se cansa de um brinquedo pode quebrá-lo sem medir as consequências. E qual o destino de seus amigos em meio às atribulações do jovem. Hoffman retorna com uma carga filosófica ainda maior, forçando-nos a tomar partido:
“… Henri Embromador fez uma pergunta surpreendente ao companheiro.
―IdrisPukke, você acredita em Deus?
Não houve pausa para pensar na resposta.
—Há muito pouco amor ou bondade em mim, e no mundo de maneira geral, para desperdiçá-los em seres imaginários.”
Quando nos deparamos com diálogos assim, percebemos que a parada é outra, é mais filosófica, e que há algo velado no livro, um objetivo, algo para se refletir, mastigar, deglutir, e o que aparentemente era para ser apenas um YA, torna-se coisa de gente grande, puro deleite.
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