Ca Melo 13/08/2020Um livro que eu não sabia que precisava... (Com amor, Dublin - Livro 2)O casamento foi um livro que eu não sabia que precisava. A continuação da história de Júlia e Robert me conquistou de uma maneira que foi difícil não me sentir tão representada aos sentimentos da Júlia.
Eu gosto dessa experiência que livros assim me marcam: quando a personagem protagonista consegue te representar tanto na aparência, quanto nas situações semelhantes (não que eu more em Dublin e tenha um cara como Robert à minha espera, rs). Mas digo principalmente por tocar em assuntos que dizem respeito a um relacionamento amoroso e com ele as inseguranças por ser uma mulher negra e achar maneiras de se autossabotar.
Para aqueles que amam um romance clichê, esse livro não vai te decepcionar: é o tipo de história com algumas questões mal resolvidas, mas que a gente sabe como vai terminar, deixando aquele quentinho no coração. O que não significa que a trama deva ser desmerecida por isso, muito pelo contrário. Tayana Alvez é uma mulher negra escrevendo histórias românticas sobre e com protagonistas negras? Não por acaso a nota final da autora no livro revela ainda mais o racismo e ausência de mulheres negras, não só na publicação de livros, mas também com suas imagens nas capas de livros. Enquanto eu crescia eu não tive nenhuma protagonista em que eu me visse representada. Vejo que está mais no que na hora da nossa literatura ser empretecida.
Com uma narrativa dividida em capítulos alternados entre Robert e Júlia podemos ter diferentes perspectivas de cada um e compreender os seus sentimentos e aflições. Aqui o relacionamento também é tratado de forma real, não há perfeição e o livro também não se propõe a criar personagens perfeitos. Eu compreendi muito do que a protagonista passava e chorei em diversos momentos com as (nossas) cicatrizes e dores, inseguranças e felicidades. Poderia destacar aqui diversos pontos sobre a condição da mulher negra em relação aos relacionamentos: solidão, ser usada como um objeto exótico (principalmente num país europeu), e sua condição de não ser uma mulher para relacionamento, quem dirá um compromisso tão sério como um casamento, oficializado no caso.
Aqui permanecem o mesmo cenário do primeiro livro a Irlanda, com as crianças fofas e sem a glamourização dos intercambistas brasileiros que precisam se submeter a diversos subempregos para se manter. Mas agora estamos vivenciando uma Dublin real, já que a autora contextualiza a história durante a pandemia de covid-19 em que estamos vivendo.
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