Sarah L.T. 15/03/2023
A alma sendo descrita em aroma
Quem já leu sobre ou viu documentários sobre Serial Killers, sabe que existe um ponto em comum entre todos eles: A aparente completa ausência de motivo para assassinar. É algo que nem eles mesmos conseguem descrever em palavras, um impulso, o "Fator X".
Em "O Perfume", questões completamente abstratas como afinidade, amor, impulso, empatia, alma e essência são colocadas em termos de aromas. A obra trata tudo o que é inexplicável aos seres humanos, como cheiros que não podem ser percebidos conscientemente por nosso olfato inferior ao de tantos animais.
Com isso, o protagonista, Jean-Baptiste Grenouille, o único capaz de discernir os mais diminutos aromas, se destaca. Desde o início do livro, ele é retratado como um homem sem cheiro e que, por isso, é assustador a todos os outros. Essa ausência de cheiro pode ser vista como uma analogia para a falta de alma, essência ou até mesmo empatia. Como não possui cheiro ou propósitos além do campo olfativo, sua única ambição é fazer um perfume que contém a soma dos cheiros, ou essências, de garotas que seu nariz julgou como as que possuíam os cheiros naturais mais divinos.
Com tudo isso, podemos notar toda a analogia com assassinos em série sendo construída: a motivação, clara para o assassino e inexplicável aos outros; a escolha de vítimas, aparentemente aleatórias, sendo descrita como uma atração olfativa imperceptível a outros; e a sua ausência de cheiro como uma ausência de empatia ou alma.
O livro é absolutamente poético e fantástico, cheio de outras analogias e investigações sobre a essência humana e críticas profundas à humanidade.