Ana 31/12/2020
Já faz um tempo que meu interesse por assuntos envolvendo questões de gênero aumentou. Inclusive, o tema do meu trabalho de conclusão de curso foi violência contra a mulher e, durante meu período de pesquisa, aprendi inúmeras coisas. Então sempre quero ler qualquer coisa que vejo relacionada ao feminismo. E foi assim que conheci De Quem é Esta História?
O subtítulo do livro já diz tudo: "feminismos para os tempos atuais". Aqui, Rebecca Solnit reuniu 20 ensaios publicados por ela em outras mídias que tratam do feminismo sob diferentes temáticas: política, cidadania, assédio sexual e até mesmo a crise climática. Os ensaios são bem pautados na sociedade estadunidense, mas, no final das contas, a realidade lá é bem parecida com a nossa, até porque o machismo e o patriarcalismo não escolhem um só povo, uma só nação.
Algo que permeia praticamente todos os textos de Solnit é a relação entre representatividade e poder. Inclusive ela faz uma reflexão bastante interessante sobre o fato de nossas cidades serem permeadas de nomes masculinos. Por exemplo, moro numa rua chamada Antônio Paulino Neto; todas as escolas que estudei também homenageavam homens: Escola Estadual Coronel Coelho, Instituto Educacional Manuel Luiz Pego, Colégio Tiradentes... Os homens sempre são lembrados pelos seus "grandes feitos" enquanto as mulheres continuam sendo apagadas da nossa história.
Inclusive, esse assunto leva a outro ponto: quando lembradas, as mulheres nunca estão em posição de poder, ou seja, são sempre vistas apenas como mães, esposas, donas de casa... Não que isso seja errado, claro que não, até porque a maioria das mulheres vive essa vida dupla, aliada ao trabalho, mas temos que reconhecer que é um estereótipo imposto a nós. Nós nunca somos lembradas por feitos científicos, pela luta feminista ou por qualquer relação de poder. Percebem?
Rebecca Solnit se expressa muito bem e traz muita sinceridades aos seus textos, que conversam entre si. Apesar de discorrer sobre várias coisas, é certo que o tema central gira em torno da desigualdade entre homens brancos hétero-cis das outras camadas da população, que incluem homens não brancos, mulheres, mulheres não brancas, comunidade LGBT no geral, e como eles detém o poder, e, portanto, são perfeitos. Querem um exemplo muito, mas muito claro? Vocês se lembram do quanto a presidenta Dilma era criticada por sua falta de oratória durante seus discursos, mas o mesmo não acontece com o homem que está no poder agora, ainda que ele viva falando abobrinhas, absurdos e dez milhões de coisas desconexas por aí?
Aí chegamos em alguns pontos para se pensar: será que o título do livro é De Quem é Esta História? pelo fato de, majoritariamente, as histórias serem escritas e narradas por homens? Ora, se não podemos contar nossas próprias histórias, se nossas histórias não são nossas, como seremos lembradas? 😕
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