Literatura e ditadura

Literatura e ditadura (Orgs.) Rejane Pivetta de Oliveira...




Resenhas - Literatura e ditadura


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Toni 03/11/2020

Literatura e ditadura [artigos]
Rejane Pivetta, Paulo C. Thomaz (Orgs.)
Zouk, 2020, 232 p.

Não se escreve ficção sobre o trauma da mesma maneira que qualquer outro assunto já tratado pela literatura. E quando a ditadura ainda se faz presente, reemergindo “como um corvo a nos sobrevoar” (D. Eltit), a literatura precisa se manter atenta às manipulações dos dispositivos democráticos, ao mesmo tempo em que elabora estratégias discursivas capazes de dar conta de uma memória em disputa. Falar de como a ficção reage à memória da ditadura no Brasil é falar sobre como as políticas de memória na esfera social, coletiva e institucional, podem impactar a produção artística nacional. Os textos reunidos nesta coletânea, escritos por nomes de peso da crítica literária contemporânea (deslizar foto para a esquerda para ver o índice), realizam este percurso com maestria, articulando num volume bastante coeso debates sobre democracia, autoritarismo, memória, violência, trauma e esquecimento.

Na primeira parte, “Estudos críticos”, os artigos constroem um espaço ético para o estudo da literatura, um espaço de contestação, agonístico(*) por excelência, onde não é possível dissociar a esfera estética do campo político. As ficções investigadas aqui, bem como as ferramentas de análise evocadas, se comportam como suportes materiais para a construção de um espaço simbólico de resistência e, como tais, interagem com a memória individual de cada sujeito provocando uma reação, ou tomada de consciência, contra as voltas violentas do recalcado. Já na segunda parte, “Escritos sobre experiência e ficção”, seis escritoras e um poeta (re)elaboram suas memórias em torno da repressão e dos rastros de autoritarismos que, ainda hoje, continuam a matar, torturar e esquecer. Tomados individualmente ou em conjunto, são “arquivos da memória” que reforçam por que é que “a vida e o trabalho de um escritor”, nas palavras de Toni Morrison, “não são um presente para o gênero humano, mas uma necessidade imprescindível”.

(*) Para Chantal Mouffe, o ‘agonismo’ é a percepção do conflito como elemento essencial ou mesmo mantenedor de uma democracia plena.
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