tarifa de embarque

tarifa de embarque Waly Salomão




Resenhas - tarifa de embarque


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MatheusPetris 09/03/2022

SARANDAIA EM ALTO MAR
Qual a tarifa para embarcar na crista da onda? Eu diria: Confiar no acaso; Perfurá-la e afogar-se mar adentro. E lembrem-se de mergulhar de olhos sempre abertos… Deixar ser levado pela vertigem, pelo torpor de ser frequentemente desarmado, pela surpresa. O mar é imprevisível. Edgar Allan Poe dizia que a poesia é “a criação rítmica da beleza”, atravessado por Wally, arrisco dizer: É a criação rítmica da vertigem.

Os desvios da poética de Salomão são perpassadas pela epígrafe Oswaldiana, afinal, a poesia do poeta-míssil é tudo, menos prescrições-burocratas-acadêmicas. Outro ponto fundamental desse míssil sempre em alerta: a necessidade em romper com o estrangeirismo, afinal, quem não o é? Somos todos telúricos sem terra. Inconformado, grita por liberdade. O amor em Waly é a intensidade de quem vive uma geografia sem fronteiras, é a
“a sede de um rio corrente caçando o SAL do oceano ardente”. Essa sede é manifesta por uma transa, uma intercalação de possibilidades gráficas e formais: o mar pode ser muito pouco e quase tudo. Ele é um desenho, uma IMAGEM; É uma citação-metafórica; É APENAS o mar; É um corpo onde uma garrafa é lançada, isto é, a palavra se integrando ao MAR… Como também ecos de Sailormoon.

Nestes desvios & vertigens, pisamos em terras longínquas, vislumbramos o céu, se perdemos em alto mar. Nesta geografia espalhafatosa, deambulamos por cidades ao redor do mundo, nos confrontamos com monumentos, com estátuas, com chegadas & partidas. Alguns objetos são tragados para o corpo do poema, se integram a ele com uma força metonímica de derramamento selvagem. Na selva, na cidade, com os deuses, com os terráqueos… Não há fronteiras. Deleuze atarracou: o escritor é como um animal à espreita. Waly, como Deleuze, escreve como um animal selvagem. Não atoa, sua estética da recepção é uma sarandaia sobre a criação, “dado que o mundo é de áspera epiderme“, se faz necessário “suportar a vaziez” na fanfarra. Enquanto leitores, façamos o mesmo! Afinal, o “Término de leitura / de um livro de poemas / não pode ser o ponto final.” NUNCA. Por isso escrevo. Por isso releio. Por isso discordarei deste texto. Façamos o mesmo? Afogados ou não, continuemos mergulhados — e sem ar.
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