Neilson.Medeiros 12/10/2022
Os vínculos familiares. Esses fios invisíveis que nos atam aos que hoje aqui estão e aos que antes aqui estiveram. Com a leitura de Os Malaquias, pude ter uma vista panorâmica do vale onde ancestralidade e descendência vibram. Também dá para avistar o desencontro, esse fio do qual comungamos. Por meio de um raio fulminante que acerta uma família, pais e filhos se desencontram. Os irmãos se desencontram. E assim a cadeia se amplia. Com Os Malaquias e sua escrita afiada, bem pesada, mágica e duramente real, pude ver que, mais do desencontro, a vida se inunda com os reencontros: o homem nasce, cresce, constitui família e morre. E depois disso fica a essência: um sopro, uma gota, um grão ou uma faísca. E tudo retorna.
Em outro nível de sentido, fica a reflexão sobre o progresso, essa máquina que acende luzes e transplanta cidades inteiras. O mesmo progresso que delira em nós com promessas é aquele que apaga as luzes na primeira oportunidade. Serra Morena abriga um vale dentro de um vale, um espelho que inverte o mundo aparentemente único de possibilidade. Não à toa a família tem forte relação com esse mundo escondido. Uma família partida ao meio por um raio reencontra-se a vida toda com ela mesma, nunca a mesma de antes, mas sempre vendo de cima, do alto do vale, o progresso presente no dono da fazenda, na hidrelétrica que inunda tudo ou na catraca da rodoviária.