Caroline Gurgel 17/11/2016Penoso, mas valiosoA Divina Comédia entrou para minha meta de leitura desse ano como um desafio e o quanto passei a gostar da obra foi uma grata surpresa. Fiz algumas pesquisas antes de iniciar o primeiro livro e coloquei alguns pontos que achei interessantes no post sobre Inferno no blog. Para os leigos em Dante, como eu, a “ajuda” é imprescindível para uma melhor compreensão do texto.
A leitura de Inferno foi um pouco difícil, mas não tanto quanto a do Purgatório. O segundo livro requer muito, mas muito mais repertório e conhecimento do que o primeiro. Eu penei – em todos os sentidos – mas a medida em que fui avançando e compreendendo melhor os círculos, fui gostando mais do que lia.
Assim como em Inferno, no Purgatório também temos 9 círculos a serem percorridos por Dante. São dois ante-purgatórios e mais sete cornijas, cada uma correspondendo a um pecado capital.
Para a gigantesca montanha que é o Purgatório, vão aqueles que se arrependeram ainda em vida. No Canto IV, ficamos sabendo que a subida é tão íngreme que é necessário usar pés e mãos, mas que a medida em que avançamos, ela se torna cada vez mais fácil. (Diferente do Inferno, onde quanto mais se desce piores são os pecados, no Purgatório, quanto mais se sobe, mais leve e mais perto do céu se fica.)
Na porta do Purgatório (Canto IX), o anjo grava sete “Ps” na testa de Dante, que serão lavados um a um, a medida em que ele for passando de uma cornija para a outra. Passadas essas cornijas, Virgílio, que não tem acesso ao Paraíso, se despede de Dante.
A partir daí, foi, para mim, a parte mais empolgante e bonita do livro, quando chegamos ao Paraíso Terrestre – ou Jardim do Éden – encontramos Beatriz e vemos o arrependimento e purificação de Dante para que ele siga sua jornada.
Contando assim até parece bem simples, mas o livro é cheio de simbologias e referências para serem desvendadas. Há, certamente, quem vá compreendê-las sem ajuda, mas no meu caso fui salva pelas notas da edição da editora 34.
Por exemplo, leio no Canto XXIX,
“A VIRTUDE, DA QUAL O JUÍZO EMANA,
CANDELABROS ME FEZ RECONHECER
E, NAS VOZES DO CANTO, OUVIR ‘HOSANA'”,
os candelabros simbolizam os dons do Espírito Santo. Ou, ainda no mesmo canto,
“VI, DEPOIS, DE HUMILDE SEMBLANTE,
E ATRÁS DE TODOS VIR SOZINHO UM VELHO
DE OLHAR DORMENTE, EMBORA PENETRANTE.”
o velho simboliza o Apocalipse. Ou seja, dava para ter entendido o que estava escrito, mas não compreendido seu significado. Com as notas e as pesquisas tudo vai tomando forma, e é aí que entra o entusiasmo e a admiração pela obra.
Outro detalhe que enriqueceu a leitura foi ter acompanhado os famosíssimos desenhos que Gustave Doré fez para A Divina Comédia. (Como tenho uma outra edição antiga, ilustrada, fui seguindo a ordem das ilustrações por ela. Deixei no blog um link de um site que tem todas as ilustrações de Doré separadas por livro.)
Recomendo para quem quer conhecer a obra e encorajo os que ainda tem medo dela. Não dá para compreender tudo, nem eu teria tamanha pretensão, mas repito o que disse em Inferno, não é um bicho de sete cabeças. Sigamos – felizes – para o Paraíso!
3/5 Corações
5/5 Estrelas
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