naniedias 17/03/2012Mr. Punch, de Neil Gaiman e Dave McKeanUm pequeno menino que passa alguns dias com os avós. Por ter apresentado sinal de uma das doenças comuns da infância - catapora, caxumba, ou outra qualquer (ele não se lembra com exatidão) - e com sua mãe grávida, o menino é enviado para passar férias forçadas com os avós. E passa por um período turbulento: de descobertas da loucura mental do avô (e também da inépcia moral do mesmo), da infelicidade da avó, de uma doença mal explicada do tio-avô.
E essas descobertas se mesclam com a admiração e medo que o garoto sente pelo espetáculo de Judy e Punch.
O que eu achei do livro:
Primeiramente, vocês sabem quem são Judy e Punch? Não?! Pois é, eu também não sabia. E isso faz toda a diferença entre entender ou não a história. O caso é que não entendi muita coisa e talvez você também não entenda.
A edição da Conrad ficou belíssima - em tamanho grande (29,5cm X 21,5cm), com uma coloração muito bonita e páginas em um papel muito bom. Só faltou a orelha para dar um acabamento melhor (mas talvez só seja assim na minha edição, que foi vendida pelo Submarino, que de vez em quando vende edições menos interessantes a preços módicos). Mas faltou algo essencial para essa história: uma introdução (veja bem, essencial à edição brasileira).
O tempo inteiro enquanto passava pelas páginas, degustando a história, eu ficava pensando se o teatro de Mr. Punch realmente existia ou era algo da cabeça do autor. Não quis interromper a leitura para buscar maiores informações na internet e esse foi um grande erro. O teatro é muito famoso na Inglaterra - algo que está no imaginário popular e que todos, ao menos, já ouviram falar e que muitos já assistiram. Dessa forma, o autor não se dá ao trabalho de explicar o enredo do teatro, ou contar de forma linear a história em um primeiro momento (embora seja possível juntar os recortes que vão sendo contados aos pouquinhos e montar todo o enredo). Então, se você não conhece essa famosa história (famosa na Inglaterra e não por aqui), você, provavelmente, não conseguirá desfrutar completamente desse livro, como aconteceu comigo. A linearidade a que me refiro é justamente sobre a aventura de Mr. Punch no teatro - aquela que é conhecida por todos (todos os ingleses). Pois a história do protagonista realmente não é para ser linear, uma vez que se trata das memórias de uma criança em um tempo distante - nebulosas e apagadas em alguns pedaços - contada em primeira pessoa. É maravilhosa a maneira como Neil Gaiman consegue passar para o papel essa impressão e mostrar ao leitor como o narrador já não se lembra de tudo e como muitas coisas conseguiram perturbá-lo.
As ilustrações de Dave McKean são incríveis - belíssimas, intrigantes, perturbadoras! Dão vida à história escrita por Gaiman e, na minha opinião, são a alma dessa HQ. Como expliquei, não conhecia algo fundamental para a história e acredito que por esse motivo a achei tão confusa, mas com as ilustrações eu consegui adentrar o mundo mágico e distorcido de Punch e Judy e curtir o livro. No final da contas, a leitura de A Comédia Trágica ou a Tragédia Cômica de Mr. Punch foi para mim bela e misteriosa, intrigante e impressionante, mas também muito cansativa e pouco elucidativa. Eu terminei de ler o livro sem entender muito bem o que o autor queria passar, ou pelo menos, sem conseguir entender grande parte do que o autor queria passar.. Uma pena, porque a história parece ser muito mais do que eu pude absorver. Acredito piamente que uma introdução, que poderia facilmente ser adicionada à versão brasileira, auxiliaria a minar esse sentimento de desorientação e levaria a uma leitura mais íntegra e agradável.
Apesar de ser uma HQ, não se iluda, não é voltada para o público infantil. Com uma linguagem adulta - tanto escrita quanto visual - o livro é capaz de fascinar e assustar. E para que você possa aproveitar a leitura de uma forma que eu pretendo aproveitar no futuro (quando reler o livro), indico que leia antes esses dois links: Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Punch_and_Judy - e Who is Punch? - http://www.punchandjudy.com/who.htm- , ambos em inglês, mas muito elucidativos sobre a famosa peça infantil.
Enfim, não consegui compreender tudo o que havia para ser degustado nessa HQ e acabei perdendo muito com isso. Espero poder reler em um futuro próximo e gostar ainda mais da leitura, que dessa vez foi tão prazerosa quanto perturbadora.
PS: Esse foi meu primeiro encontro com Neil Gaiman. Era um autor que eu já queria conhecer há um bom tempo e a minha primeira impressão foi a melhor possível, mesmo tendo alguns problemas para alcançar toda a história. Achei a forma que Gaiman escreveu a história muito interessante e já estou ansiosa para ler outras coisas escritas pelo tão famoso autor.
Nota: 7
Dificuldade de leitura: 7
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