Maleita

Maleita Lúcio Cardoso




Resenhas - Maleita


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Leonardo 04/07/2011

Como um adolescente pode ter escrito isso?
Disponível em: http://catalisecritica.wordpress.com

Cada viagem, um livro. Cada livro, naturalmente, uma viagem.

Hoje fui a Pedrinhas e depois a Simão Dias. Aproveitei o tempo, claro, lendo. Desta vez o livro foi Maleita, do escritor mineiro Lúcio Cardoso. Publicado em 1934, esse livro tem uma marca impressionante: foi escrito quando o autor tinha entre 16 e 17 anos, o que é impressionante, considerada a qualidade da narrativa.

Quem me recomendou esse livro foi um cidadão autocognominado Fúria, que trabalha em um sebo aqui em Aracaju. Aproveitando que iria a Brasília, e lá visitaria alguns sebos, pedi-lhe algumas indicações de livros que eu não poderia deixar de comprar caso os encontrasse. Resultado: acabei comprando esse e a obra-prima do autor, Crônica da Casa Assassinada, na Mega Store Saraiva, novos.

O livro relata a história de um homem que sai de Curvelo e vai fundar a cidade de Pirapora, às margens do São Francisco, no sertão mineiro, no finalzinho do século XIX. Lá ele se depara com o Rio, grande personagem do romance, com ex-escravos, que vivem quase como animais, com os desafios de se construir uma cidade praticamente do nada e, em especial, com a maleita, a doença, a febre, a sezão, que o persegue desde o início até o fim do romance.

O que mais impressiona no livro é saber que um garoto de 16 anos o escreveu. É óbvio que é perceptível a inexperiência em alguns pontos, em que a narrativa meio que se fragmenta. Além disso há um vício do autor que “suja” a minha leitura: várias, várias e várias vezes ele insere uma vírgula entre o sujeito e o verbo. Interessante como os revisores deixaram isso até mesmo nessa edição que possuo, que é de 2005. Purismo, para preservar a obra original?

Certamente isso não compromete o romance, que é ágil, com direito a personagens curiosos e angustiados e descrições ricas, como a que se segue:

“Ocaso.

A estrada quieta, batida de sol. Bois pacíficos ao longe, magros e tristes. Aniquilamento. Casas vazias, móveis quebrados, animais apodrecendo ao sol, inércia, morte.

Urubus nos galhos secos, graves, soturnos.

Silêncio… silêncio.

Um ou outro menino amarelo, amarrando pedaços de carne podre em tocos de lenha, para urubu.”
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