Larissa Guedes de Souza 06/09/2022
Finalmente li a obra de um dos meus conterrâneos mais famosos, Augusto dos Anjos. Confesso que nunca tinha lido por puro preconceito adquirido na época da escola. Pois no Ensino Médio só me foi apresentado como alguém que escrevia poesia escatológica, e trechos como "Apedreja essa mão vil que te afaga / Escarra nessa boca que te beija!". E sim, ele escreve sobre a morte e sobre uma versão pessimista da vida, mas hoje compreendo que isso é justamente representativo do seu talento, o que na adolescência não pude admitir (aí já é uma grande discussão, que não cabe aqui, sobre como certos autores e textos são apresentados a crianças e adolescentes na escola...).
Poesia não é o meu forte, nem os temas que ele trata, mas é indiscutível o talento e a inteligência de um autor que consegue escrever de forma tão eloquente e tão visceral quanto Augusto dos Anjos. Como ele consegue ao mesmo tempo seguir todas as "regras" da poesia, com métricas, versos e estrofes perfeitos, e quebrar padrões tratando de temas que não eram tidos como "poéticos" ou "líricos". É incrível como ele consegue passar os sentimentos mais profundos com uma franqueza, que beira o chocante, tudo isso usando vocabulário erudito e até termos científicos na suas descrições.
Augusto morreu com 30 anos e deixou apenas um livro. No início não foi acolhido nem pela crítica, nem pelos leitores, mas hoje é aclamado como um dos mais importantes poetas brasileiros. Não é um livro para todos, pois não é simples, nem fala de coisas bonitas. Mas é um desafio massa desvendar Augusto dos Anjos, pois é exatamente isso que fazemos ao ler este livro, que não poderia ter título mais apropriado que "Eu".
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