Daniel 02/03/2013
Augusto é dos grandes. Com uma capacidade única de manter o padrão clássico da métrica e da rima enquanto dessacraliza a poesia tradicional, ele é um monstro dos versos.
Em Eu e outras poesias vemos a repetição e afirmação de temas de sua obra. A morte inevitável, o materialismo em dualidade simbolismo, seu vocabulário científico e seu onipresente pessimismo.
Vários dos poemas são clássicos por si só e demonstram a genialidade dele que, não é de se espantar, é quase inclassificável. Um verdadeiro macabro, ele muitas vezes passeia entre a resignação e a explosão, a apatia e a afetividade. Muitos dos poemas são completamente perturbadores enquanto outros são melancólicos e até amorosos, na sua estranha visão de mundo.
Também é nitidamente centralizado nas suas próprias experiências e destino. Ainda que trate da morte, que está aí para todos, ele sempre a aborda de maneira intrínseca e pessoal.
O melancólico é, além de talentoso, erudito. Estudou e demonstra isso seja nas suas passagens mais parnasianas, simbolistas ou expressionistas. Ele sabe subverter e tirar o máximo da métrica clássica. Consegue misturar um vocabulário apoético em sonetos irretocáveis. Não lhe falta domínio linguístico.
Talvez por conta de tamanha originalidade, Augusto é muito sozinho. A solidão seja factual ou poética é marcante em sua obra e vida. Não há um momento em que o eu lírico não passe uma grande impressão de isolamento, até em certos pontos auto-imposto intelectualmente.
Só não dou 5 estrelas ao livro por achar que, por seu tamanho, acaba tornando-se repetitivo. Augusto muitas vezes bateu na mesma tecla e, por mais que ele seja genial, há um limite de "repetição" para todos.
Ou seja, Augusto, individualmente, poema por poema, é mais que cinco estrelas. Para seu melhor aproveitamento, leia em pequenas doses. Recomendo também fazer anotações, facilitam muito a percepção da volta dos temas recorrentes.
Fecho essa curtíssima resenha com meus versos favoritos, cortesia do poeta: "Para iludir minha desgraça, estudo/intimamente, sei que não me iludo."