Mario Miranda 04/04/2020
Antígone é minha Tragédia Sofocliana predileta. Tive a oportunidade de ler duas traduções a de Trajano Vieira e a de Mário da Gama Kury (esta compondo toda a Trilogia Tebana: Édipo Rei, Édipo em Colono e Antígone). É importante conhecer a narrativa de Édipo que, apesar de não ser exatamente citado ao longo desta Tragédia, é necessário para melhor compreendermos todo o histórico que desemboca em Antígone.
Sófocles é um escritor que possui um apreço especial pela Solidão: Electra é solitária em seu desejo de vingança ao longo da maior parte de sua Tragédia; Filoctetes é o solitário por excelência, tendo vivido abandonado em uma ilha por anos, prefere ali continuar a abrir mão do que crê; Édipo em Colono é um Édipo exilado, abandonado pelos cidadãos que salvou, amparado apenas por suas filhas.
Assim como nas obras precedentes, Antígone é uma personagem solitária: abandonada por sua irmã, Ismene, decide realizar os ritos fúnebres de seu irmão, Polinices, sozinha, contrariando a decisão do rei, Creonte, seu tio e sucessor no trono de Tebas, após o governante, Etéocles, também irmão de Antígone, morrer no combate contra Polinices.
Creonte, ao descobrir que sua sobrinha realizou os ritos fúnebres contrariando a sua decisão, decide prendê-la em uma caverna para que lá ela morra. O destino de Creonte é profetizado por Tirésias, que já em Édipo Rei era o intérprete dos sinais da cidade, e tudo que lhe é informado ocorre logo após.
Creonte é o símbolo do Ditador, do autoritário: incapaz de ceder em seus projetos, avança mesmo com oposição dos sábios e da população local. Antígone, por sua vez, é a representação da mártir, aquela que decide enfrentar a morte para defender a sua crença. Entretanto, a crença de Antígone não é uma crença tal qual de Creonte, ditatorial, mas sobretudo uma crença na Justiça, nos desígnios divinos. Antígone aceita a morte como consequência daqueles que buscam justiça.