Eder 27/02/2013
O Último Papa – Luís Miguel Rocha
A jornalista Sarah Monteiro, filha de pais portugueses, mas que mora em Londres, Inglaterra, ao voltar de férias, encontra em sua correspondência, alguns documentos enigmáticos. Entre eles, uma lista com alguns nomes, inclusive o de seu pai, e uma mensagem codificada. A partir daí, Sarah se vê em meio a um turbilhão de acontecimentos e revelações sobre política e religião, que imediatamente colocam sua segurança e sua vida em risco. Tudo porque tais documentos estão intimamente ligados à morte do papa João Paulo I, pouco mais de um mês após o conclave, em 29 de setembro de 1978.
A morte de Albino Luciani, mais conhecido como João Paulo I, sempre foi cercada de vários mistérios, e algumas lendas se criaram em torno disso tudo. Rezam algumas dessas lendas, que ele havia feito premonições sobre a sua morte, outras ditam que ele fora avisado pela Irmã Lucia – uma das crianças conhecidas como Três Pastorinhos, que tiveram visões com Nossa Senhora no ano de 1917 –, de que ele seria eleito papa, mas que seu pontificado seria breve. Além, é claro, de que, falecer 33 dias depois de receber o Anel do Pescador, é um fato que, por si só, já desperta bastante atenção.
Com isso, o autor português Luís Miguel Rocha tenta criar, em O Último Papa, um thriller religioso em que aponta uma possível conspiração, envolvendo a maçonaria, como não podia deixar de ser, dentro da própria Igreja, que explicasse as causas que levaram ao final prematuro do pontificado do chamado “Papa Sorriso”. Infelizmente, Rocha acaba por conceber um livro confuso, principalmente por não se decidir se este é um romance histórico ou um romance policial.
O autor apresenta uma narrativa peculiar, bastante descritiva, que eu confesso, achei muito interessante e, muitas vezes, bela, mas que pode tornar cansativa a leitura, em determinados momentos. As melhores passagens do livro são os flashbacks que narram fatos acontecidos antes do conclave que elegeu Albino Luciani, ou mesmo durante os momentos antes de seu possível assassinato. Acredito que se fosse um romance com teor histórico, Luiz teria tido maior êxito, pois é inegável seu conhecimento de História e com certeza, não mediu esforços em suas pesquisas para arquitetar sua obra. Porém, nos trechos que se passam nos dias atuais, o livro parece “diminuir a marcha”. Muito provavelmente devido à ação exagerada que o autor impõe em seu livro e atos absurdos e implausíveis dos personagens.
As passagens de ação, aliás, são dignas de um filme de Jason Statham (aquele de Carga Explosiva). Até o tal Rafael Santini me lembrou muito tal ator. Porém, no livro, estas partes não funcionam tão bem como o autor pretendia. Para mim, imaginar uma simples jornalista conseguindo escapar de assassinos profissionais e da CIA, através de metrôs, ruas e praças abertas no centro de Londres, até chegar a Rafael/Statham, seu guia, é impossível. E este, em minha opinião, é o maior pecado do autor, pois faz com que nos tornemos céticos em relação ao que estamos lendo, e indiretamente, coloca em xeque sua teoria, exposta inicialmente. Repito, se Rocha tivesse se concentrado em escrever um romance histórico ao invés de brincar de Dan Brown lusitano, teria nos brindado com uma história fascinante, sem dúvidas.
Com um terceiro ato ainda menos crível, onde vemos homens impiedosos e sem escrúpulos sendo desarmados graças a um telefonema de uma conhecida de um dos personagens centrais, o livro se encerra com um novo enigma, que muito provavelmente é o tema de Bala Santa, outro livro do autor. Ainda temos uma “nota” do homem denominado no livro simplesmente como J.C., afirmando que João Paulo I foi, de fato, assassinado, provavelmente para dar mais veracidade à obra, mas que acaba soando forçado e desnecessário.
O Último Papa não é um livro ruim, mas com certeza não figura entre meus favoritos. Ao final, eu me sentia mais aliviado do que saciado por tê-lo lido. Não pretendo ler a tal continuação. Infelizmente, o autor não me cativou.