Julia3342 01/07/2023
Denso, mas com toda certeza um acerto.
Para quem não está acostumado com as obras de Dostoiévski, O Idiota pode ser um pouco (muito) complexo de se compreender no início, até se situar na narrativa do autor, você vai passar por vários perrengues de interpretação - ainda mais por se tratar de uma tradução direta do russo, mas eu garanto que depois valem a pena.
Ao escrever O Idiota, Dostoiévski tentou retratar ?a beleza do ser humano? como muitos dizem. Tudo começa com três estranhos em um trem a caminho de Petersburgo. Um príncipe chamado Michkin, um homem não muito brilhante e atravessa a sociedade de forma simples, mas é uma pessoa boa, honesta, simpática e agradável; devido a essa ?ingenuidade? todos o veem como um idiota: ele encontra um espertalhão Rogójin, que guarda uma obsessão doentia por uma linda jovem, e um funcionário do governo chamado Liébediev, que aparece de forma proeminente em todo o romance.
Ao longo da narrativa é possível notar que para o idiota é possível dizer ?sim? a tudo. Se cada coisa proibida, cada maldade tiver uma base sólida, pode se transformar em lei e, assim que essa lei seja testada, pode servir de base de um novo modo de ver as coisas, uma nova ordem. O bem e o mal são permutáveis.
Na visão de Michkin, a experiência mágica está no reverso de todos os valores morais. Michkin não tem como objetivo quebrar as tábuas da lei, ele simplesmente mostra o outro lado onde as leis estão escritas nas tábuas. Se na realidade da cultura humana o mundo está dividido entre o claro e o escuro, o bem e o mal, tudo é permitido.
Michkin não é um santo. Ele apenas estabelece uma relação franca com aqueles que conhece, uma relação que foge aos comportamentos ou costumes sociais. Ele produz um estranho efeito sobre todos, trazendo respostas sinceras e autênticas, o que permite a nós leitores entender a sua verdadeira natureza.
Ao longo da obra a narrativa passa por diversos cenários sociais de Petesburgo que são um deleite aos olhos da psicologia - atuando de maneira errônea afim de conquistar suas reais intenções, a manipulação aqui é uma consequência dos desejos internos de cada personagem.
Por fim, dizer qualquer detalhe a mais, será trazer spoilers ou criar teorias em sua cabeça que talvez não vão condizer com as mais diversas interpretações que se possam ter dos personagens. Mas uma coisa eu digo com toda certeza, qualquer obra de Dostoiévski nunca será uma perda de tempo na sua estante.