Jaqueline 07/10/2011
Segundo volume da série “My Land”, “Sombra” provou ser uma leitura muitas vezes melhor que seu predecessor, “Escuridão”. Em grande parte, isso se deve à revelação de alguns dos mistérios do primeiro livro da série, que deixou muitas pessoas (inclusive eu!) insatisfeitas por seu tom altamente introdutório e pela falta de pistas que levassem a um mínimo de suposições sobre os aterradores assassinatos dos sonhos de Alma, a protagonista da série.
Em Escuridão, vimos a bela, popular e insensível adolescente Alma descobrir um caderno roxo onde ela começa a escrever contos macabros que narram os assassinatos de pessoas aleatórias. Após muitas reviravoltas, ela descobre que seus sonhos são premonitórios e logo trata de evitar que eles aconteçam. Porém, tudo parece apontar para o fato de que ela mesma seria a assassina em questão. Em meio a tudo isso, ela começa a ser perseguida por estranhos homens vestidos com sobretudos, os misteriosos Masters.
Em Sombra, somos surpreendidos com mais um mistério: ao participar de uma excursão do colégio, Alma se depara com o retrato da filha de um famoso fotógrafo. A garota é idêntica a nossa protagonista e uma nota informa que ela cometeu suicídio junto com outras três amigas e que desde então seu pai parou de fotografar. A coincidência bizarra reside na data do acontecimento, mesmo dia em que Alma sofreu um acidente de carro onde duas de suas amigas perderam a vida. Com esta questão martelando em sua cabeça, ela continua tentando lidar com seus problemas do cotidiano: seu irmão continua ignorando sua existência, sua mãe terminou o namoro com e sua amiga Agatha está presa em uma casa de detenção graças à sua denúncia. Com o misterioso Morgan desaparecido, fica cada vez mais difícil para ela tentar encaixar as peças do quebra-cabeça de sua vida, ainda mais depois que o misterioso “Homem Anjo”, o dono da papelaria onde ela comprou o caderno roxo, é assassinado por um Master bem na sua frente.
Apresentando o sinistro imaginário dos Não Nascidos, Sombra é um livro bem mais consistente e intrigante. Nele, finalmente descobrimos o porquê da série se chamar “My Land”. Com o retorno de Morgan, muitas perguntas que permaneciam em aberto ganham respostas, desde o motivo do frio comportamento de Alma com as outras pessoas até a função de seus sonhos e as estranhas falas do Professor K. Se no primeiro livro da série Morgan parecia ser um simples clichê de mocinho de romance adolescente, neste livro ele atua como um verdadeiro guia para Alma, introduzindo-a em um grupo de jovens rebeldes que compartilha um perigoso segredo sobre sua existência.
Eu considero esta série extremamente irregular. A narrativa tenta amarrar uma série de tramas que fazem pouco ou nenhum sentido e cuja relevância é ainda mais duvidosa. Nesta continuação, continuamos sem saber que sentido existia no fato de Agatha preservar o cadáver de sua tia em casa ou que diferença faz a irmã mais nova de Alma, a pequena e doce Lina, ser muda ou não. Só o fato do título da série ganhar uma explicação apenas na sua metade indica a existência de um problema na construção narrativa da série.
Apesar de tudo isto, “Sombra” se mostra uma leitura um tanto superior àquelas que vêm lotando as prateleiras das livrarias brasileiras devido ao estilo de escrita da autora italiana Elena P. Melodia, carregado de fina ironia e repleto de metáforas inteligentes, indeterminações filosóficas e reflexões para lá de contundentes. Alma não é uma protagonista qualquer, mas uma insensível adolescente que vive em um mundo problemático, completamente colorido em tons de cinza. Compreender isto me fez observá-la com outros olhos, tornando esta leitura bem mais palatável.
>>Resenha publicada no site www.up-brasil.com