regifreitas 09/11/2019
ROMANCES DE CORDEL (1962-1967), de Ferreira Gullar; xilogravuras de Ciro Fernandes.
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O livro reúne produções na forma de literatura de cordel, compostas e publicadas pelo autor nos anos 1960, com temáticas voltadas para a conscientização dos problemas sociais brasileiros.
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“João Boa-Morte, cabra marcado pra morrer” (1962) trata da vida difícil do sertanejo nordestino. João, ao bater de frente com o coronel local por conta da exploração sofrida pelos trabalhadores do campo, perde o emprego e não é mais aceito para trabalhar em nenhuma das fazendas da região.
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“Quem matou Aparecida?” (1962) conta a história de uma jovem da periferia, cheia de sonhos. Ainda menina, engravida do patrão, na casa onde vai trabalhar como babá. Expulsa e acusada de roubo pela patroa, volta para a favela. Conhece um bom homem, casa, mas vive uma vida cheia de dificuldades. Tempos depois, o marido é preso ao participar de uma greve operária, e o filhinho morre de fome, levando Aparecida a cometer um ato desesperado.
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Em “Peleja de Zé Molesta com Tio Sam” (196?), rola um desafio entre um trovador popular e a figura que personifica os EUA. Trata-se de uma crítica aberta e direta à cobiça e a exploração dos estadunidenses.
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“História de um Valente” (1966) foi publicado na clandestinidade, com o pseudônimo de João Salgueiro. Narra a vida de Gregório Bezerra. De origem humilde, ele se tornou militar e, posteriormente, deputado, sendo um membro destacado do Partido Comunista Brasileiro. Opositor da Ditadura Militar, foi preso e torturado durante o regime.
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São poemas nos quais predominam, às vezes mais, às vezes menos, o tom panfletário, da arte como instrumento para a conscientização e para a revolução social. Por conta disso, uma ou outra passagem tem qualidades mais políticas que estética. Mesmo assim, é um trabalho importante e relevante, que merece a leitura.
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Obs.: chegou em minhas mãos via Salvador, por conta da amiga @martaskoober, de quem sou extremamente grato!!