Vitória 21/10/2022
Esse foi meu quinto livro das irmãs Brontë e o segundo só da Charlotte. De longe, esse é o que tem a narrativa mais diferente. Aqui não temos os acontecimentos narrados por nenhum personagem, mas sim por um narrador onisciente, que vai dando destaque pra pessoas diferentes conforme a história pede por isso. Só esse fato já me causou certo estranhamento, mas o fato do livro iniciar com uns tais de coadjuntores, que até agora eu não sei dizer direito quem são nem o que fazem, tendo uma conversa da qual eu não compreendi nada, foi o pior. O começo do livro é confuso, e isso faz com que a leitura nesse ponto seja mais difícil. Depois que somos apresentados à Caroline o negócio anda bem melhor e, depois que a Shiley aparece lá na página 300 (sim, a protagonista aparece depois de 1/3 do negócio, cheguei a pensar que o nome no título era só de enfeite) ele decola de vez.
Os temas sociais abordados aqui também são diferentes dos outros livros das Brontë. Claro que ainda mantemos o feminismo, o papel da mulher na sociedade, o machismo e todas as pautas mais gerais relacionadas à mulher que são discutidas nas outras histórias, mas os assuntos trabalhistas têm muito mais destaque. Como os personagens estão vivendo a revolução industrial, muito se é falado sobre como a compra de máquinas modernas deixa centenas de trabalhadores desempregados e o que esse desemprego altíssimo acarreta na vida das famílias, a revoltas trabalhistas, as péssimas condições de trabalho e a baixa remuneração, o trabalho infantil e feminino, dentre outros. E aqui a Charlotte quebrou a minha cara mais uma vez, a mulher é tão revolucionária pra sua época que parecia a Dilmãe falando. Como boa militante do partido dos trabalhadores e das trabalhadoras, tenho que dizer que foram esses trechos que me fizeram surtar.
Agora vamos às protagonistas. Caroline aparece antes pra gente, e sinto que a apresentação dela condiz demais com a sua personalidade, é aquela coisa calma, devagar, onde tudo acontece ao seu tempo. Ela chegou quietinha e tomou conta do meu coração aos poucos, mas quando vi eu já tava rendida por essa mulher. O romance dela com o Robert é mais clichê, a paixonite pelo primo que não faz a mínima ideia dos seus sentimentos, e as cenas dos dois no comecinho são lindas, ainda que depois disso o Robert só vá ladeira abaixo. Tenho que dizer que não gostei de como os problemas entre eles se resolveram, de como o Robert descobriu tudo e "se declarou", porque na verdade só temos declarações da parte dela. Acho que a Caroline merecia um boy melhor do que esse, mas fazer o que né, não tenho como saber se essa trama era mais bem vista na época em que o livro foi lançado, mas agora ela já me parece um pouco fraca.
A Shirley, por sua vez, é uma força da natureza. Falei do narrador onisciente que acompanha certo personagem a cada capítulo, mas no caso dela não temos nenhum. Passadas 200 páginas que a mulher tinha aparecido eu ainda não sabia direito o que ela queria nem se ela era amiga de verdade da Caroline (sim, sou desconfiada), e mesmo assim eu já estava apaixonada por essa mulher. A Caroline tem muitos pensamentos progressistas, mas pelo fato da Shirley ser tão extrovertida a gente vê isso mais presente nela, principalmente quando falamos dos temas trabalhistas, afinal a mulher é simplesmente dona da 🤬 #$%!& toda. O Louis só dá as caras já no finalzinho do livro, mas isso foi o suficiente pro homem tomar conta de tudo. A Charlotte sabe muito bem construir o romance entre aluna e professor, com diferença social e de idade grandes, e as declarações desses dois são de longe a minha parte favorita do livro inteiro. O sentimento parece tão verdadeiro pro leitor que acaba ofuscando o outro casal, eu não conseguia pular de uma cena deles pra outra da Caroline com o Robert e não sentir a diferença. Pra mim, não há ninguém acima desses dois.
A Charlotte também me deixou de cara no chão com a revelação de quem era a mãe da Caroline. Pensei que o fato dela explorar tanto a história da mãe da menina era só com a intenção de inserir outra pauta social e feminista na história (que, a propósito, ficou incrível), e tenho noção, depois de ter concluído a leitura, que ela deu várias dicas, mas eu não pesquei nenhuma delas. Dá pra ver que a mulher sabe como fazer as coisas direito. Confesso que Jane Eyre continua sendo o meu grande favorito da Charlotte e das irmãs Brontë, mas esse aqui só perde pelo início mais lento. Não fosse por isso os dois estariam pau a pau. Estou morrendo de saudade desses personagens, passei muitos dias com eles, mas sequer percebi, a leitura voou demais. Mal vejo a hora de encarar o próximo calhamaço que é Villette.