Rick-a-book 02/11/2009
Fábulas para adultos com consciência
Toda semelhança entre este trabalho do egípcio Naguib Mahfouz e a famosa obra da literatura persa é mera coincidência.
Escrito originalmente em 1982 e apenas publicado em inglês em 1995, "Noites das Mil e Uma Noites" usa as histórias e personagens do conhecido clássico para criar uma fábula moderna, com questões modernas, numa atmosfera de magia e mistério próprias dos contos árabes.
A ação se dá na Idade Média, numa cidade islâmica indeterminada, e parte do ponto exato em que acaba o relato de "As Mil e Uma noites": Scherazade, depois de contar fantásticas histórias ao sultão Shariar por três anos, é desposada por este. Todos acreditam que, devido à sua habilidade de contar histórias, Scherazade salvara o resto de piedade que havia no coração do sultão e semeara também ali o amor. Contudo, a mudança fora apenas superficial e o sultão, afinal, continuara sem conhecer a compaixão, o amor e a justiça, mantendo-se um homem poderoso, mas sem consciência. Uma série de acontecimentos dilacerantes que lhe ensinarão o verdadeiro sentido do poder lhe auxiliarão a elevar a sua alma e ressuscitar-lhe a consciência.
O leitor ocidental se surpreenderá com elementos de seu cotidiano - corrupção em todos os níveis da sociedade, seitas religiosas decididas a derrubar o regime. Ao mesmo tempo, entretanto, gênios ainda saem de garrafas abertas por indivíduos ingênuos e transformam suas vidas de muitas maneiras, inclusive para pior.
Nesta obra grandiosa toda a narração é uma alegoria rica em magia, pormenores, do interessantíssimo mundo árabe antigo e contemporâneo, com todos os seus conflitos políticos e religiosos. Nas palavras do próprio escritor, "As Noites das Mil e Uma Noites" é "do mais importante que escrevi em toda a minha vida; nele se misturam a tradição com a modernidade, a realidade com a lenda".
"Uma verdadeira obra-prima da narrativa. Inserida no seio de uma tradição própria, não lhe são alheias nem a fantasia, nem a mística, nem a simbologia, nem a sensualidade, nem os enigmas, nem o mundo onírico, onde parece desenvolver-se uma boa parte da ação."