IvaldoRocha 17/08/2021
Um livro maravilhoso e no momento muito oportuno.
Poderíamos dizer que se trata da segunda temporada das Mil e uma Noites, ou sua continuação, mas é muito, muito mais que isso.
Nas “Mil e uma Noites”, o sultão Shariar, após ser traído pela esposa, resolve não mais confiar e mulher alguma. Assim a cada noite, recebe em seus aposentos uma nova esposa, com quem passa a noite e que na manhã seguinte será executada, garantindo assim que ele não seja vítima de nova traição.
Após mais de três anos contando suas estórias à irmã e ao Sultão Shariar, estórias que nunca terminam antes do sol nascer, Sherazade faz com que sua execução sempre seja adiada para o dia seguinte para que o sultão possa saber o final.
Sherazade acaba por enternecer o coração do Sultão que por ela se apaixona, terminando assim com a matança das jovens inocentes.
Então temos início a “Noite das Mil e Uma Noites”, nessa cidade indefinida, Naguib Mahfouz mistura num caldeirão, vários personagens da literatura árabe, como Simbad, Aladim, gênios e demônios, sultões e princesas. Mas o livro vai muito além das lendas, no “Café dos Príncipes” onde se reúnem tanto a plebe como a elite da cidade, muitas estórias, ali começam ou terminam.
A corrupção, vilania, venda de favores, inveja, ambição, a incapacidade de resistir aos demônios da tentação, a paixão, o amor, tudo se faz presente.
É clara a crítica social por detrás de tudo, a corrupção sempre aflora a opressão aos mais indefesos e necessitados, a perseguição política e religiosa.
Primeiro livro de Naguib que li e que me conquistou como escritor, vou atrás de outros. Enfim um livro simplesmente maravilhoso e muito oportuno para o momento que vivemos.
Naguib Mahfouz, escritor egípcio prêmio Nobel de Literatura de 1988, publicou mais de 50 romances, mais de 350 contos e dezenas de roteiros de filmes e cinco peças ao longo de 70 anos de carreira.
Em 1994 sofre um atentado a faca, por ter se pronunciado a favor de Salman Rushdie que havia sido condenado a morte pelos fundamentalistas islâmicos por ter escrito livro Versos Satânicos.
Naguib, nunca se recuperou totalmente do atentado, a facada no pescoço deixou sua mão lesionada e com muita dificuldade para escrever.
Defendia a religião mulçumana e o respeito às demais religiões, sempre combatendo os extremistas radicais.